domingo, abril 30, 2006

morke dod
o Brasil marcou um amistoso com a Noruega, a ser realizado em 16 de agosto. em oito mil anos de civilização, o país nunca bateu os noruegueses no futebol. e perderá essa partida fácil fácil. e não só pela minha torcida pelos setentrionais - basta evocar algumas outras disputas:

1. Índice de Desenvolvimento Humano: a Noruega lidera a classificação mais recente, de 2005, com um IDH de 0,963. a mandiocolândia amarga um 62º lugar, entre Rússia e Romênia, com 0,792.

2. maior galardão do país: a Noruega, e não a Suécia, entrega o prêmio Nobel da paz todo ano. e aí, brasileiros, vocês preferem a Ordem do Cruzeiro do Sul, o prêmio Jabuti ou a lista das mais sexy da VIP?

3. grande artista da música contemporânea - aqui é Röyksopp versus Nando Reis. sim, ele é o que temos de contemporâneo. desde 1984.
(insira um título aqui)
depois de uma conversa telefônica com meu pai e meu tio, um bate-bola com o Marcio, um case study e umas trocentas audições de "My darling", do Wilco, tava aqui pensando em como o conceito de família que meu pai tem é diferente do meu - e como o das minhas filhas provavelmente será bem diferente do que tenho. mas já estou me precavendo para, se não tivermos visões convergentes, poder conviver com isso numanaice. e, com a ajuda da mãe delas, explicar às minhas meninas tudo do melhor jeito possível.
classe
tem momentos na vida, como agora, em que tudo o que se quer é fazer o solo de "Lips like sugar", do Echo & the Bunnymen, na air guitar. ainda mais depois de uns sugar kisses...
uh la la
:)

sexta-feira, abril 28, 2006

how to be prego, volume 1
caramba, tô tão haole que tô dando palpite até em ovo cozido!
é tudo a mesma coisa mesmo...
manchete do Terra: Fidel Castro reorganiza PCC e destitui agente por abuso de poder.

quando vi essa chamada, achei que o tirano cubano estivesse a ajudar o Primeiro Comando da Capital, aquele grupo criminoso que atua dentro das penitenciárias do estado de São Paulo. mas a reestruturação, na verdade, é no Partido Comunista Cubano. que é tipo um Primeiro Comando da Capital por lá.
baluarte
aí, saiu meu primeiro editorial no Portal do Geólogo. prestigiem, quero ganhar dinheiro.
momento dois
(11:50, em casa. toca o interfone.)

"- hello?"
"- oi, aqui é o gás." (uma empresa de gás próxima, que manda os funcionários interfonarem em todos os prédios, pra ver se alguém quer)
"- I'm sorry sir, I can't understand you. maybe I have to learn Portuguese, bye. (clic)"
momento um
(10:57, saindo à pé do Terraço Shopping, no Octogonal)

"- por favor, o senhor responderia a uma pesquisa?"
"- claro, pode mandar. é sobre o quê?"
"- pesquisa política."

(...)

"- no cenário um, com os candidatos abaixo, você votaria em..."
"- ... Geraldo Alckmin. na alta."

(...)

"- no cenário três, da lista de candidatos colocada, qual o senhor rejeita?"
"- todos, menos o Alckmin. e eu não gosto dele, só voto por falta de opção."

(...)

"- no cenário entre a candidata do PT ao governo do Distrito Federal e o do PC do B, Agnelo Queiroz..."
"- ... eu me suicidava."
"- como?"
"- anularia meu voto."

(...)

"- quem encomendou essa pesquisa a vocês?"
"- o Ibope. será divulgada na terça-feira."
"- escuta, tem como colocar aí que eu sou de direita?"
fac-símile
a GQ Portugal está atrasada. já era pra ter chegado, mas aí por alguma daquelas palas que a importadora dá, nada ainda. por sorte, chegou a Vogue Homem nacional, que é uma cópia sem-vergonha da maravilha da imprensa lusa. chegam até ao ponto de pegar algumas reportagens da GQ, traduzi-las para o português do Brasil e publicar.

caramba. a revista brasileira é trimestral ou quadrimestral e ninguém é capaz de fazer matérias? e se for pra publicar algo português, o que é muito bem-vindo, que seja na grafia original. já não há mais respeito mesmo...

quinta-feira, abril 27, 2006

vem aí...
a versão indie do portal da Erika Patolino.
blood on the tracks
todo dia eu entro na página do Franklin Martins. não, não virei fã desse guerrilheiro de meia tigela que embute seu petismo em cada declaração - ele sabe fazer isso com grande sutileza. só estou esperando ele tentar devolver a réplica à coluna do Diogo Mainardi do sábado passado, mas pelo visto ele não vai. nem deve ter como. até deixou de fazer comentários na CBN essa semana...
zebrado
cantora distribui 150 "selinhos" em apresentação. acho repugnante essa galera que tem HPV e acha que os fãs devem saber disso também - e da pior forma possível.

quarta-feira, abril 26, 2006

summer's kiss
o Voando à deriva estreia (sem acento, à portuguesa) nova roupagem, mais leve e adequada para o verão. e aí, vai ficar a ranger os dentes de frio?
vale a pena ver de novo
o Marcio hoje me fez relembrar um dos pontos altos dos anos 1990 (sim, aqueles do Parklife): esta dancinha. não é que ela está cada vez melhor?
aliás...
não fosse a providencial frase de miss Tramontina, a frase da manhã seria "Eu não entendo de tucano. Minha ave preferida é o beija-flor.", crocodilada pelo ex-governador carioca Anthony Garotinho.
coação
frase da manhã: "ei, atualiza o blog com alguma coisa." - Mariana Tramontina, musa de plantão.

terça-feira, abril 25, 2006

caô
por favor, alguém diga que isso é mentira...

Aviões terão lugar para viajar em pé na classe econômica

WASHINGTON (ANSA) - Os fabricantes de aviões oferecerão às empresas aéreas novos aparelhos para que os passageiros da classe econômica viajem de pé, o que permitirá às empresas vender mais passagens por vôo.

Se a proposta render frutos, as poltronas serão substituídas parcial ou totalmente por apoios verticais com cinto de segurança, um pequeno apoio para as costas e outro para a cabeça. Estes sustentadores verticais ocuparão 62 cm, contra os 77,5 cm dos assentos atuais da classe econômica.

Segundo o jornal The New York Times a Airbus será a primeira companhia a oferecer lugares para viagens de pé. Cada vôo de um Airbus 380 poderá, com as mudanças, aumentar de 500 para 853 passageiros por vôo na classe econômica.

Apesar do desconforto que pode ser viajar de avião em pé, não há nenhum impedimento legal para que as companhias aéreas norte-americanas ofereçam este tipo de serviço, desde que as condições de segurança estejam garantidas.


agora eu sei como o Thom Yorke se sente.
vespertino
na década de 1960 nós tivemos a Dusty Springfield pra mostrar que as mulheres mandam bem no pop. na de 1970, a Carly Simon. na de 1980, a Chryssie Hynde; na de 1990 a Adriana Calcanhoto e a Fiona Apple deram conta.

na década de 2000, tudo bem, tem a Feist - mas ela só lançou um disco (o "Monarch" é de 1999). cadê mulherada?

p.s.: o primeiro que falar da Karen O toma um cróque corretivo.
???? ????
dia desses a Lia disse que na Romênia também rola a lenda de que só em romeno existe uma palavra para definir "saudade" - eles não sabem do termo em português, nós não sabemos do termo deles. vacilo. dá saudade de quando não existia essa lenda urbana.
enquanto isso...
... no Rio, dois momentos da coluna do Ancelmo Gois de hoje:

Estava animado domingo o comandante do vôo JJ3108 da TAM, Florianópolis-Rio, com escala em São Paulo.

Lá pelas tantas, disse: "Aqui, comandante Kevin Costner, co-piloto Tom Cruise e comissárias Sharon Stone e Angelina Jolie."

(...)

A cena aconteceu sábado, no Cinemark Dowtown, na Barra, na última sessão de "16 quadras". Um rapaz separou seis cadeiras e não deixou ninguém sentar. Dizia que estavam reservadas. Teve gente que brigou, esperneou, e nada.

Até que chegou Romário. O Baixinho nem perguntou. Apesar da cara feia do tal jovem, sentou com os amigos nos lugares "reservados". A platéia, eufórica, aplaudiu o jogador.

segunda-feira, abril 24, 2006

la paz
incrível: não estou a fim de escrever hoje. estou em paz, tranqüilo, numanaice. tempo bom, com perspectivas de melhorar ainda mais no final de semana.
ruminando
"Catherine não sabem nem ferver água", diz Michael Douglas.

equipe do Terra não sabem nem concordância verbal, diz Eduardo Palandi.

domingo, abril 23, 2006

Homer Simpson
o Wal-Mart de Brasília vende saborosos donuts, em embalagens com seis ou doze unidades. preço da menor: R$ 3,28 (por extenso, pra galera sacar: três dólares brasileiros e vinte e oito cêntimos).

é ou não é barato, Brasil? e é o café da manhã dos sonhos de todo brasileiro, quando combinado com um Nescafé numa xícara grande e uns dois saquinhos de açúcar cristal jazindo no fundo dela.

pena a informação ter vindo agora, em meio a uma grande dieta. por outro lado, por 13 centavos a menos dá pra levar uma Mini McSalad no McDonalds, que ajuda bastante a controlar a forma.
cara...
... na boa: quem precisa de rock, canadense ou não?
insalata
não há muitos postes neste blógue? não tem nada de interessante na minha vida, aparentemente? bem, eu estou guardando a inspiração. e uma hora ela vai se manifestar - mas não aqui.
maizena
hoje eu me despedi do casal Marcio & Lia no estacionamento do Extra e fui pro lado direito do lugar, buscar meu carro, enquanto eles pegaram a esquerda. até aí tudo bem, não fosse o facto de que eu larguei meu carro no extremo esquerdo do estacionamento e me esqueci por completo disso.

sempre soube que ia sofrer de Alzheimer, mas tão cedo, senhor?
tio Zé
quando se dá uma busca por "Ação Integralista Brasileira" no Yahoo, o Wunderblogs aparece entre os primeiros resultados.

quando se dá uma busca por "Casa da Moeda" lá, aparece a igreja universal em quinto ou sexto.

hoje eu decidi dar uma busca por "maconheiro" e o primeiro resultado que apareceu foi o daquela vez em que detiveram o Marcello Antony em Porto Alegre porque o bicho comprou tchose e pagou com cheque.

e agora, se você busca "tchose" lá, o DF Medieval já aparece no top ten.

por essas e outras que eu ainda boto fé na humanidade.

sábado, abril 22, 2006

flocos
explicando a história da entrevista, que realmente passou na madrugada de hoje, por volta de 12:40...

tudo começou duas semanas atrás, quando estava procurando um apartamento para alugar numa página de imóveis aqui de Brasília. por acaso, encontrei um anúncio de uma casa que acabara de se tornar conhecida no Brasil todo: a da República de Ribeirão (ou Embaixada de Ribeirão, se você freqüentou a festa triplex). lá, como a mídia noticiou, o nada querido Antonio Palocci e seus partners escusos se encontravam para negociar, propinar e (perdão, meninas) comer putas. depois que o escândalo estourou, a galera decidiu entregar a casa e foram sabe-se lá pra onde.

repassei a informação a um amigo que trabalha na Abril, para ver se ele gostaria de fazer alguma coisa com ela. foi assim que ele cantou a bola pra um conhecido na "Veja", que publicou a nota na edição desta semana, que chega hoje às bancas e você pode ver aqui (a senha da edição em banca, válida até hoje, é RONDONÓPOLIS. para acessos posteriores, recomendo pegar a senha na comunidade da revista no orkut).

ontem estávamos eu e esse amigo no aeroporto de Brasília, emitindo uma passagem para o irmão dele. sabe como é, aproveitar logo o Smiles antes que a Varig feche e você não tenha mais motivos para sorrir. nisso liga a mãe dele e avisa que a edição desta semana da "Veja" já havia sido publicada na internet, com a nota sobre o aluguel da casa. como o imóvel fica ali no comecinho do Lago Sul, do lado do aeroporto Juscelino Kubitschek, sugeri que déssemos uma passadinha pela porta - nem pensámos em actos de vandalismo nem nada.

ao chegar lá, uma equipa de reportagem do SBT estava a filmar a casa por fora. pregos que somos, nos demos de desavisados e puxámos papo com os dois caras que faziam as gravações:

"- essa casa tá pra alugar?"
"- tá sim. catorze mil."
"- essa aí não é aquela casa da..."
"- é sim, essa mesma."
"- como vocês souberam dessa história?"
"- a gente é do meio, né cara, a gente tem as fontes" - o rapaz disse, todo orgulhoso.

nisso, sai uma loira de um carro estacionado ali atrás e diz "nós vimos na 'Veja'". bingo. era a repórter - o cara que me havia respondido tudo era o motorista do grupo. e a moça, assaz simpática, queria saber porque eu tinha ido até lá. e eu respondi:

"- sou corretor de imóveis, vi a história na 'Veja' também, vim ver por curiosidade."
"- você é corretor dessa casa?"
"- não, de outras. só não estou com o meu cartão aqui..."
"- mesmo assim, não quer dar uma entrevista pra gente?"

meu querido Marcelo Freitas, a propósito de uma asneira que tinha feito no trânsito brasiliense, uma vez me disse "cara, aprenda uma coisa: ou você faz bonito desde o começo ou você faz cagada desde o começo". sem saber se o que estava fazendo era do primeiro ou do segundo grupo, decidi tocar o barco em frente... e topei dar a entrevista, falando que a casa era "muito bonita, bem-localizada, parece espaçosa e confortável, o preço está na média do mercado... não creio que demore a ser alugada novamente". HAHAHAHA, ho detto. depois foi só contar a bravata pros amigos e me ver, morrendo de vergonha, numa reportagem anunciada pelo Carlos Nascimento.
la strada all' inferno
então ficou decidido: eu tenho de voltar a estudar italiano, ficar fluente na p**** dessa língua e começar a xingar só em italiano, depois passar um tempo no país pra aprender a gesticulação - nem que seja na Lombardia, de onde minha família veio e os gestos são os mais comedidos do país. continua sendo questão de honra aprender italiano, só que se tornou algo mais urgente. depois disso, bora encarar o sueco, o concâni e o islandês, a última fronteira da comunicação trendy do mundo.
anhé?
foi só hoje, ouvindo nos fones de ouvido, que eu percebi que a Carly Simon fala "son of a gun" na introdução de "You're so vain". massa.

sexta-feira, abril 21, 2006

é sério
hoje eu dei uma entrevista no SBT, que vai ao ar à meia-noite e meia. amanhã eu explico isso melhor. mas ei, é sério.
draconiano
o Futerock, programa apresentado por meus queridos Luiz Galano e Alexandre Petillo, além de grande elenco, também tem um blógue na internet - sem contar que pode ser ouvido pela rede. entra logo, preibói!
ficção científica
eu ainda me lembro daquele dia em 2008 em que a conheci. estava num hotel em Bruxelas, fazendo meu check-in, havia acabado de deitar fora do corpo meu trench-coat. chovia a cântaros lá fora, e não havia, nessas condições, muito para onde ir. aí os meus olhos se cruzaram com os dela - e o mundo pareceu pequeno demais. quente demais. doce demais. tudo de mais. a boca secou, a caneta caiu. a moça do balcão perguntou em inglês se estava tudo bem e eu, trouxa, respondi em português. uma falha de comunicação, logo depois de um grande acerto você-sabe-onde.

não viajei mais de oito mil quilômetros para me apaixonar. subi ao quarto pensando nisso e em tirar as meias, a barba, tomar um banho de imersão o mais quente possível e voltar a mim mesmo, sem perder tempo com paixonites de viagem. em dois dias teria de voltar a Frankfurt e de lá seguir viagem para Dubai, enfrentando o maior choque térmico da história da civilização ocidental. mas o choque, naquelas condições, era outro. anafilático, de me esmagar por dentro. tem mulheres pelas quais você deixa família, fortuna e reputação para trás. nunca duvide disso - especialmente se você souber que podem explorar suas fraquezas. havia passado por isso quatro anos atrás e, de alguma forma, aquilo ainda estava presente em mim.

são histórias que nunca acabam, já dizia uma banda aqui da Bélgica. você vai e volta, acumula milhas, perde malas, gasta solas visitando itinerários sugeridos, prova comidas... e não se desapaixona. ou pensa que desapaixona, quando acontece tudo de novo. e não acha ruim: ao contrário, acha que pode dar certo. passa um tempo se enganando. quantas histórias realmente terminam? comigo foram duas. duas noites de sono bem dormidas, duas xícaras de chocolate quente, duas mechas de cabelo afastadas para os lados enquanto o beijo na testa sela o adeus, duas páginas não só viradas como arrancadas do livro e queimadas em silêncio. porque barulho faz mal e só o silêncio é sexy.

então lá estava eu, numa cama que seria minha por quarenta horas, tirando aqueles panos molhados que envolviam meus pés e ligando pra minha mãe, só pra dizer que tava tudo bem, que vencera um aguaceiro e a barreira da língua. deveria dizer a ela que perdi para um olhar rápido, coisa de três segundos? melhor ficar quieto. tudo parecia como daquela vez em que acordei num hotel em Guarulhos e não sabia onde estava nem o que fazer, e só fui descobrir horas depois, com uma limusine à minha espera e um negócio a ser fechado. tudo bem, o taxímetro rodava e eu continuava a ser pago para chacoalhar as mãos de estranhos duas vezes e, na segunda delas, receber um cheque e uma carta de intenções. sabe quais são as minhas para com você? saber se você é a dona daqueles olhos do saguão, que me perseguem pelo quarto, me escalam as costas e me derrubam na cama, que, se me pertence por dois dias, parece que a ti pertenceu por toda a vida - tal qual parece que eu também.

as meias se foram, a barba está por um fio - ou melhor, três, e de aço. sentisse eu sede, teria toda a água da chuva bruxelense para me desfazer a secura da boca - mas a única sede que tenho agora é de saber quem você é, por quê diabos estava ali e se aceita casar-se comigo. aliás, antes que você me diga que eu me apaixonei por uma imagem sua que não existe de verdade, procure saber se você é tão diferente assim dessa suposta imagem - talvez você se conheça menos do que eu te sei, talvez o teu susto negue o meu impulso com medo do que vem pela frente. então levante-se, esqueça o momento de fraqueza e continue a me escalar: abra a porta do meu quarto e reivindique o que é seu. tente me convencer de sua ingenuidade até ficar com raiva e me dizer coisas que você não queria dizer, porquê não sente. aliás, você sente alguma coisa?

pare, respire, não precisa responder agora. a tempestade que já cai é da cor dos teus olhos castanhos e a vontade que tenho é de te abraçar, seja quem você imaginar que é. se nem você souber, adoraria que descobríssemos, ainda que custasse tempo, dinheiro e indecisão, ainda que me tirasse horas de sono recontando passos, vendo você com outros, puxando com força pra dentro de mim a fumaça dos cigarros que não sabia que fumava, abraçando travesseiros com os braços que deveriam estar em torno de você e de mais ninguém. agora abraço o chão: estou deitado no carpete, à espera do seu salto dez que me vai pisar e me negar antes de seguir por uma estrada que te vai pôr a dezenas de quilômetros de distância de um pedaço de si mesma, estirado no chão de um quarto de hotel em Bruxelas, protegido da chuva e ameaçado pelo teu olhar.

quinta-feira, abril 20, 2006

faixa 4
do "Heartbreaker", do Ryan Adams. o nome é "AMY", em maiúsculas:

eu vou aos lugares onde costumávamos ir
eu me sinto triste
eu estou fora daqui procurando você
às vezes eu finjo
oh, eu sinto sua falta, oh
quando você me deitou
em seu lindo jardim
flores e o amor nos meus braços (...)


é, é uma canção maiúscula.
membership rewards
uma pena que nenhuma companhia aérea ou de viação se interesse pelas madrugadas brasilienses. agora, por exemplo: queria ir para Goiânia, nesse exato momento. contar piadas, tomar capuccino, ver fotos de uma menina. andar naquele corredor de ônibus do meio da avenida, pichar um muro com tinta vermelha e alguma bobagem romântica. e sem culpa nenhuma.

quarta-feira, abril 19, 2006

handclaps
coluna do João Pereira Coutinho na Folha de hoje:

O americano intranqüilo

Aterrei nos Estados Unidos, pela primeira vez, uns anos atrás. Fiquei pasmo com fato inesperado: a simpatia dos americanos. À época, não tinha ainda lido Tocqueville e não podia concordar com o sábio francês que, já em 1831, notara como uma sociedade civil forte promovia virtudes sociais fortes. Afabilidade. Simpatia. Cortesia. Eu chegava da Europa. E, na Europa, acreditem, ninguém é simpático com ninguém. Deve ser o velho "rapport" feudal que impede qualquer empregado de café de ser prestável para qualquer cliente de café. "Servir" é verbo indigno. "Agredir", não. Na Europa, e sobretudo em Paris, você se senta num bistrô e é tratado aos pontapés. É o velho charme europeu, de que os americanos não partilham.

Em Chicago, havia sempre um sorriso e um cumprimento matinal. E a pergunta, obviamente retórica, de saber se a vida rolava. Confesso: tanta alegria, às vezes, deprime. E o excesso de energia cansa. Mas, quando se aterra nos Estados Unidos, a primeira coisa que se enterra é o clichê do americano arrogante.

Infelizmente, o mundo não concorda. Sobretudo o mundo que nunca foi aos Estados Unidos, mas gosta sempre de dissertar sobre as qualidades dos indígenas. Aliás, não apenas o mundo: o próprio governo americano está seriamente preocupado com a imagem dos seus cidadãos no estrangeiro e resolveu editar um pequeno livro com 16 conselhos essenciais para civilizar os selvagens. O americano pede o passaporte e recebe sermão grátis para não horrorizar o europeu. De acordo com Washington, o americano no estrangeiro deve: falar baixo; ouvir muito; não "moralizar" em excesso; mostrar interesse pela cultura local; andar devagar, comer devagar e, presumo, pensar devagar; não discutir religião; não discutir política; não discutir desporto; não discutir e ponto; não usar bermudas; não usar boné de beisebol; aprender o dialeto local. No fundo, fazer uma lobotomia prévia e cruzar o Atlântico na condição de débil mental.

Não me oponho a esse circo. Mas, no meu estatuto de europeu "refinado", talvez não seja má idéia avisar: a imagem que a Europa tem dos americanos não é real. É política. E não se altera com livro de boas maneiras para ler no avião.

Começa por ser uma imagem política no sentido mais lato e histórico do termo: desde a fundação dos Estados Unidos, a Europa insiste e persiste em alimentar uma sobranceria patética em relação à antiga colônia. O Novo Mundo, aos olhos do Velho, era um espaço de degenerescência física e moral, sem os múltiplos refinamentos de um concerto em Salzburgo ou de um salão em Paris. Nietzsche e seus seguidores gostavam de repetir a tese: o gosto americano pelo mais reles materialismo era repulsivo aos olhos do europeu cultivado. A Europa produzia cultura; os americanos, coitados, tinham a mentalidade própria dos filistinos: adoradores do metal e escravos dele, incapazes de apreciar a beleza intangível da vida intelectual. Curiosamente, Nietzsche não sobreviveu para assistir aos prodígios que a "vida intelectual" acabaria por oferecer à Europa no século 20.

Mas a imagem é também política no sentido mais estrito e imediato: talvez Washington não goste da palavra. Mas ser um "império" não é uma questão de gramática. É uma questão de poder militar, econômico e cultural. O "espírito do tempo", para usar a linguagem de outro alemão célebre, mora do outro lado do oceano. E, enquanto o "espírito" estiver em Washington, e não em Bruxelas, os americanos serão sempre arrogantes, ou vulgares, ou rudes, ou incultos, ou antipáticos, ou imorais, ou monstruosos. É a velha síndrome do caseiro invejoso que namora as pratas do senhor enquanto o insulta pelas costas.

Que a Europa acredite nas suas fantasias, eis um fato que não incomoda uma única pessoa lúcida. Mas que o próprio governo americano esteja disposto a marchar na paranóia, eis a confirmação de que a loucura é leve e voa depressa como o vento.
desculpa aí
mas eu estou com vontade de escrever um poste sobre frustração, e não consigo. com isso, tenho mais uma frustração.
citando Ximeninho
fazer errado até dar certo.
citando Beckett
tentar de novo. falhar de novo. falhar melhor.

terça-feira, abril 18, 2006

uh la la
(a transcrição desta coluna é dedicada a todos os zineiros do Brasil. tá ouvindo, zineiro?)

Diogo Mainardi
Jornalistas são brasileiros

Franklin Martins é o principal comentarista político da Rede Globo. Um de seus irmãos, Victor Martins, foi nomeado para uma diretoria da Agência Nacional do Petróleo. Os senadores que aprovaram seu nome levaram em conta o parentesco ilustre. Luiz Otávio, do PMDB, comentou: "Os 42 votos favoráveis a Victor Martins são uma homenagem nossa ao jornalista Franklin Martins". Heráclito Fortes, do PFL, concordou: "Ele acrescenta à sua biografia o fato de ser irmão de um grande jornalista". Aloízio Mercadante, do PT, arrematou: "Victor Martins é um profissional competente e vem de uma família marcada pelo processo de resistência democrática". Lula entregou a Agência Nacional do Petróleo ao PCdoB. Victor Martins não obteve o cargo através do partido. Ele foi indicado diretamente na cota de seu irmão, Franklin Martins. Ivanisa Teitelroit, mulher de Franklin Martins, também já mereceu sua parcela de cargos públicos. Deve ser a isso que Aloízio Mercadante se refere quando fala em "resistência democrática".

Nas últimas semanas, a imprensa tem se dedicado a analisar a frouxidão moral dos brasileiros. Está certo. Os brasileiros são moralmente frouxos mesmo. Isso ninguém discute. Mas a imprensa certamente não é muito melhor. Franklin Martins não representa o único caso de promiscuidade entre jornalistas e poder político. Pelo contrário. Há exemplos semelhantes em todas as partes. Recentemente, Helena Chagas, chefe da sucursal de O Globo em Brasília, foi flagrada tramando com Antonio Palocci um esquema para desmascarar o caseiro Francenildo Costa. O marido de Helena Chagas, Bernardo Felipe Estellita, é servidor concursado da Câmara dos Deputados e intimamente ligado ao PT. Nos dias que antecederam a quebra do sigilo do caseiro, ele foi visto circulando pelo Ministério da Fazenda. Por outro lado, a irmã de Helena Chagas, Cláudia Chagas, foi indicada por Márcio Thomaz Bastos para o cargo de secretária Nacional de Justiça. Uma de suas responsabilidades é rastrear o dinheiro do valerioduto remetido ilegalmente para o exterior. Inclusive o que abasteceu a campanha de Lula.

Não é só no PT que isso acontece. Eliane Cantanhêde, chefe da sucursal de Brasília da Folha de S.Paulo, é mulher de Gilnei Rampazzo, um dos donos da GW, a produtora que cuidou das últimas campanhas eleitorais de Geraldo Alckmin e de José Serra. Gilnei Rampazzo é sócio de Luiz Gonzales, o marqueteiro escolhido pelo PSDB para coordenar a campanha presidencial de Geraldo Alckmin. Ele foi acusado pela Folha de S.Paulo de participar de um esquema de desvio de recursos da Nossa Caixa. Deve estar a maior confusão na casa de Eliane Cantanhêde. Lula Costa Pinto é outro jornalista confuso. Ex-jornalista. Ele é genro do ex-deputado Paes de Andrade e concunhado de Eunício Oliveira, ex-ministro das Comunicações. Lula Costa Pinto também se beneficiou de desvio de dinheiro público quando era assessor do deputado petista João Paulo Cunha.

Os brasileiros são moralmente frouxos. Os jornalistas são brasileiros.
com a palavra, Ryan Adams
I ain't never been to Vegas
but I gambled up my life


(de "Oh my sweet Carolina")
reconstrução
lema do dia: "Si vis pacem, para bellum". por mais difícil que seja fazer esta...
Brasília
hora de reestruturar a companhia?
morte e destruição
passei o domingo pensando em desistir. cheguei a assinar a carta de renúncia. na hora de apresentá-la, mandei antes uma cópia para a Ana Paula, que mandou na lata: "para ser feliz é preciso passar por provações antes. nenhuma vitória tem qualquer gosto se você não luta por ela. não vou compartilhar desse seu ímpeto pusilânime".

e então eu mudei de idéia. uma decisão acertada. e não há mais esse compasso de espera que mencionei ontem não. tenho que construir as coisas desde já - ainda que não em um ritmo tão rápido.

segunda-feira, abril 17, 2006

mindfuck
kevlarsjäl disse:
só pagando de gatinho, hein
brown sugar diz:
?
kevlarsjäl diz:
essa foto aí
brown sugar diz:
i dont speak portugese
kevlarsjäl diz:
how do you know it is Portuguese, gente boa?
brown sugar diz:
cause u are fernandos friend?
kevlarsjäl diz:
ok, it is a reasonable answer
kevlarsjäl diz:
how are you, cheirador?
brown sugar diz:
fine fine off to work
kevlarsjäl diz:
good... and what is your work, preibói?
brown sugar diz:
now in a bar
brown sugar diz:
have to run
brown sugar diz:
see ya
kevlarsjäl diz:
could you suck me before you go-go?
walk away
mais uma vez eu deixei aquele assunto em compasso de espera. porque não adianta fazer nada por ora. enquanto isso, bora tocar as outras coisas. é bom pra dar uma folga pros meus amigos, que não me agüentam mais com essa história toda.
slow life
ENTREVISTA DA 2ª - ROBERT SAPOLSKY
para neurocientista americano, antecipar demais situações sociais provoca a morte de neurônios

"Seja mais superficial", diz especialista em estresse
por Sérgio Dávila, de Washington

Entre 28 milhões e 56 milhões de pessoas nos EUA sofrem de doenças relacionadas ao excesso de estresse. São nomes familiares e indesejáveis como depressão, úlcera e perda de libido. Na maioria dos países industrializados, a porcentagem de atingidos varia pouco - é sempre entre 10% e 20% da população.

Mas o estresse tem cura? "Seja mais superficial em sua vida", ensina Robert M. Sapolsky. O acadêmico norte-americano fala em tom de blague e de maneira simples, mas explica: como não há cura para o estresse, embora Sapolsky trabalhe com algumas possibilidades de terapia genética para atenuar os efeitos nocivos deste no cérebro, o negócio é ser, ou pensar, mais simples.

Como uma zebra.

Como uma zebra? "As zebras só se estressam quando enxergam um leão na savana. Então, usam todas as forças e possibilidades de seu organismo para fugir do predador. Passado o perigo, cessa o estresse", explica. O problema dos humanos é reproduzir a situação mesmo na ausência do "leão". Essa é a base de um de seus livros mais conhecidos, "Why Zebras Don't Get Ulcers" (Por Que Zebras Não Têm Úlceras, de 1994),
que a editora Francis promete lançar no Brasil neste ano.

Não se trata de auto-ajuda. Extremamente bem-humorado e com uma escrita leve e irônica - já foi chamado por um crítico literário de o "Woody Allen da neurociência" -, Sapolsky, 49, é um dos raros ganhadores do Prêmio MacArthur, em que a renomada fundação dá US$ 500 mil a uma pessoa, de qualquer área do conhecimento apenas por ter julgado que o trabalho do premiado justifica o investimento.

O trabalho, no caso, era uma pesquisa que o levou a acompanhar por dez anos um grupo de babuínos na África. Ele procurava a relação entre o excesso de estresse e a morte de neurônios. O relato da história deu em "Memórias de um Primata", leitura recomendada tanto aos estressados como aos fãs de livros de memórias e de relatos de viagens.

Mais de 20 anos depois, sua pesquisa ainda não é conclusiva, mas aponta para direções interessantes (veja quadro nesta página). Professor de neurociências da Universidade Stanford, na Califórnia, Robert M. Sapolsky ("o "M" é de Morris, nome que eu simplesmente detesto", diz), cabelos e barba que ora lembram o personagem Rolo dos quadrinhos de Maurício de Sousa, ora um babuíno, falou algumas vezes à Folha, a última delas na semana passada.

Folha - Por que, afinal, as zebras não têm úlceras?
Robert M. Sapolsky - Porque elas só se estressam no momento "certo", quero dizer, só quando há um perigo real e iminente -geralmente, um leão tentando devorá-las. No segundo seguinte e no segundo anterior à passagem do leão, elas estão ou voltam ao seu estado normal. Os babuínos não são assim -nem nós, simplificando enormemente o trabalho de minha vida inteira.

Folha - Por que não?
Sapolsky - No nosso caso, porque somos inteligentes o suficiente para pensar em situações estressantes, antecipá-las, antecipá-las de novo, muito antes de que elas realmente aconteçam, se é que vão realmente acontecer, antecipá-las neuroticamente quando elas nunca vão acontecer de verdade, mas já aconteceram uma vez, reviver e reviver as mais marcantes inúmeras vezes...

Folha - E como isso nos afeta?
Sapolsky - Além do que já se sabe, pode, penso eu, "matar" neurônios importantes do cérebro ao longo do tempo, neurônios particularmente sensíveis à ação prolongada de hormônios produzidos pela glândula supra-renal, como a adrenalina. Pelo menos acontece com babuínos.

Folha - E há "cura"? Ou pelo menos uma maneira de evitar, atenuar essa situação?
Sapolsky - No caso da morte dos neurônios, penso que existem maneiras de, via terapias genéticas e uma vez identificadas as células do cérebro que vão sofrer com o excesso de estresse, protegê-las. No caso dos humanos, temos de ser mais superficiais.
Por "mais superficiais" eu quero dizer menos cerebrais. Conseguimos isso, paradoxalmente, sendo mais cerebrais. Explico. Se você conseguir raciocinar científica e constantemente, conseguirá discernir se o que o está estressando é uma realidade, digamos, física ou apenas psicossocial. Se for física, pode se estressar. Se for psicossocial, esqueça. É simples - e impossível.

Folha - O sr. pode elaborar?
Sapolsky - Hoje em dia, é quase universalmente aceito que o estresse tem um papel importante em enrijecer nossas artérias, aumentar nossa pressão sangüínea, mas na época em que comecei minha pesquisa havia apenas uma percepção de que os dois acontecimentos tinham relação.
Havia os militantes radicais, que afirmavam que o estresse CAUSA essas doenças, ponto final. Hoje concluímos que essa relação causa-efeito simples pode acontecer, mas é mais rara. É mais provável que aumente grandemente o impacto de outros fatores de risco e piore os casos já estabelecidos.
Já os céticos achavam que: 1) O estresse não tem NADA a ver com isso; 2) OK, tem a ver, mas com um papel secundário; 3) Sim, tem a ver, mas só em indivíduos com predisposição a ser estressados. Para estes, por exemplo, pessoas estressadas comem mais carboidrato. A mudança de pensamento ocorreu pelo acúmulo de provas científicas básicas mostrando como você parte do "estresse", esse grande, confuso e indefinido conceito, para a biologia celular e molecular da doença.

Folha - Uma vez identificada a biologia celular e molecular da doença, qual a sua conclusão?
Sapolsky - O aspecto psicossocial é o principal detonador do estresse. Ele tem mais a ver com a sociedade em que ocorre, com o papel do indivíduo nessa sociedade. Por exemplo: um homem em crise de meia idade não é mais estressado porque bebe mais álcool, fuma mais, come mais gordura; ele faz isso porque é estressado.

Folha - E por que estudar babuínos?
Sapolsky - Na verdade, eu queria estudar os gorilas. Era o auge da fama da (primatóloga) Dian Fossey. Todo o mundo queria estudar os gorilas. O fato é que ninguém mais deixava os gorilas em paz, qualquer estudante recém-formado pegava sua mala e ia atrás dos coitados.
Como a fila era grande, eu procurei uma espécie menos disputada. Foi assim que acabaria me apaixonando pelos babuínos.

Folha - Uma das críticas a seu trabalho é que ele lança mão excessivamente de antropomorfismo, que mais vezes do que seria desejável para um cientista o sr. atribui qualidades humanas a animais...
Sapolsky - Uso dois níveis de antropomorfismo. Um é um recurso puramente literário -e até meio bobo. É quando escrevo por exemplo que os babuínos passavam por um período de instabilidade hierárquica tão caótico "que os trens não chegavam mais no horário, a correspondência não era mais entregue". Quem levar isso ao pé da letra tem algo muito errado na cabeça.
A outra ressalva, mais séria, é quando uso o antropomorfismo em minha pesquisa, ao lançar mão de termos como "amigos", "cultura", "personalidade", para narrar eventos ocorridos com os babuínos. Entendo a crítica, mas defendo que esses termos são absolutamente legítimos. Quando escrevo a palavra "depressão" para definir o estado de um babuíno, por exemplo, defendo esse uso. Mas concordo com a acusação quando uso a palavra "amor" -embora na minha cabeça de observador houvesse o conceito.

Folha - Já que estamos no reino do antropomorfismo, o sr. sente "saudade" dos seus babuínos?
Sapolsky - Eu sinto falta deles, e da África em geral, o tempo todo. Tenho filhos pequenos, e, desde que eles nasceram, eu reduzi minhas visitas ao continente a uma vez por ano, um mês por viagem. A última vez que consegui fazer isso foi em 2004.

Folha - Sobre o que será seu próximo trabalho?
Sapolsky - Estou pensando em alguns livros, na verdade estou no estágio seguinte a somente "pensar". Mas no momento estou afundado em trabalho no laboratório.

Folha - O sr. ganhou o Prêmio MacArthur. O sr. se considera um gênio? Ou enganou a fundação este tempo todo?
Sapolsky - (brincando) Foi tudo um jogo de camaradagem, fui fazendo amizade com outros "gênios" e eles acabaram me indicando. Falando sério, é extremamente estressante corresponder às expectativas depois de ganhar um prêmio assim. Por outro lado, você ganha carta branca para expressar suas opiniões mais imbecis sobre os mais diversos assuntos. E todo o mundo o leva a sério!

Folha - O sr. é estressado?
Sapolsky - Sou absurdamente estressado. Trabalho demais, durmo pouco, tenho filhos pequenos... O que me impede de ser mais é que eu adoro meu trabalho, sou desesperadamente apaixonado por minha família, exercito-me com freqüência...
nota dez
para esta esquete do Gato Fedorento aqui.

domingo, abril 16, 2006

qual é a música?
você consegue imaginar o Cure no "Qual é a música" da TVS circa 1989, tocando "Untitled", com o Robert Smith segurando aquele microfone com espuma cor-de-carne, no meio daquele cenário avantgarde com fundo amarelo, luzes redondinhas nos rodapés e as colegas de trabalho assistindo atônitas?

eu consigo.
intempérie
as probabilidades de chuva sobre Brasília hoje são pequenas, infelizmente. tudo bem que choveu até dia desses, mas eu queria nove milhões de dias chuvosos a partir de hoje. chuva ininterrupta, de preferência.
golpe de vista
eram três e quinze da manhã quando cheguei em casa e, ao contrário do que se esperava, não fui dormir. ao invés disso, armei uma bomba. ainda estou com ela aqui comigo, apenas à espera do melhor momento para atirá-la, o que deve acontecer em no máximo 48 horas.
um
antes de tudo, feliz Páscoa pra todo mundo.

sábado, abril 15, 2006

fashion victim
a Zara do Parkshopping é, tipo assim, um templo de consumo para a juventude antenada brasiliense. trata-se, mais do que uma simples loja, de um pináculo no consumismo fashion do cerrado, um meio-termo entre o pasteurizado barato (Renner, Riachuelo, C&A) e o trendy-que-te-manda-pro-cheque-especial (Tommy Hilfiger, Osklen, Replay). mais do que a Levi's, cujas lojas não tem tanta variedade, mais do que a TNG, que certas vezes descamba pra um estilo mais ceilandense.

quando estive no fim do ano passado no Conjunto Nacional com o casal-locomotiva da Asa Norte, Rollo e Camila, vi com surpresa o anúncio de que uma nova loja da Zara seria erigida ali, nesse shopping centre tão... tão... tão Taguatinga Shopping. e imaginei que a loja seria mais acanhada e para fazer com que a gente sofrida que freqüenta a rodoviária do Plano Piloto, logo ali do lado, se poupasse de ir ao Parkshopping. qual o quê. a Zara do CN abriu portas no mês passado e, informado pelo bon vivant Otto Solino, soube que era ainda maior do que a primeira loja. dois andares, sendo o superior apenas de moda masculina. uh la la!

dirigi-me, então, ao Conjunto Nacional, onde hoje conheci a nova loja: uma beleza. trench-coats tudo-de-bom, camisolas / camisetas inspiradas (embora algumas com um quê negativista, tipo "I want your skull"), calças xadrez que ainda terei, ternos de inspiração retrô, meias lisas, sneakers... tudo tão aprazível que saí com uma sacola. com coisas dentro, é claro. assim, recomendo uma visitinha à nova loja da Zara... na pior das hipóteses você se sente, tipo assim, super-mediterrâneo-primeiro-mundo.
não se esqueça
desde anteontem, graças ao Marcelo, resgatei um disco que não me comoveu na época em que saiu, foi executado até o sexto nas rádios brasileiras, transformou os membros da banda em rockstars de primeira grandeza aqui no país da mandioca e trouxe-os para tocar no país no Rock in Rio.

o disco em questão é o "Neon ballroom", do Silverchair. admita: você tinha dezessete pra dezoito anos na época em que ele saiu (1999), você achava o Daniel Johns lindo, você ouvia "Ana's song (open fire)" e ficava imaginando quem era a Ana da música e, quando descobriu que era uma canção sobre anorexia, ficou "aliviada", porque ainda mantinha esperanças de se casar com o loiro australiano, que acabou se dando assaz bem e garfou a Natalie Imbruglia, com ela subindo ao altar depois de uns anos.

tocou ad nauseam em tudo que é rádio, lembra? o duro é que, mesmo tendo isso sido insuportável, o disco tem mais predicados do que os outros sucessos internacionais daquele ano - a relembrar: "Californication", Red Hot Chili Peppers; "Supernatural", Santana; "Garage inc.", Metallica (lançado em 1998 mas bastante executado em 1999 por conta de "Whiskey in the jar"), e por aí vai. a molecada down under meteu cordas no disco, cuidou dos arranjos, botou umas letras mais, ahn, de destruição madura (olha eu indo pro inferno depois de cunhar esse termo...), coisas assim. e o disco vendeu lindezas por aqui, a ponto de o Silverchair ter tocado depois dos Deftones no Rock in Rio - coisa que só poderia se repetir na Austrália natal da molecada.

a já citada "Ana's song" é uma das músicas mais bonitas sobre coisas ridículas já feitas. há pelo menos um momento brilhante na letra, quando ela diz "I love you to the bone" - um trocadilho ferino e passional. apesar de uns rockões de primeira, o lance aqui são as baladinhas, que fizeram tantas teenagers, incluindo você, suspirar pelo grupo. "Emotional sickness", "Miss you love"... e deve ter mais algumas. uma hora eu resgato o "Diorama", de 2002, que é ainda melhor mas passou quase em branco por aqui, porque a banda encerrou atividades em 2003 - uma sábia decisão de Daniel Johns. afinal de contas, por quê sair de casa quando você dorme com a Natalie Imbruglia?
veredas
da Nhenhenhém do Globo de hoje:

Pai-Nosso!
Há duas semanas, uma dessas beatas de igreja que adora conversar na saída das missas abordou um cristão:

"— É uma vergonha o que está acontecendo! Será que ninguém vai fazer nada?"
"— Já fiz" — respondeu serenamente o abordado.

Ela cortou a conversa, pensando tratar-se de um debochado. Depois que viu agora os jornais, reconheceu tratar-se do procurador Antonio Fernando.

sexta-feira, abril 14, 2006

torcendo pelo fim
assim como domingos, eu odeio feriados. e sempre torço para que eles acabem logo.
incerto
clique aqui para assistir ao vídeo de "Europe is our playground", do Suede. na verdade, não é bem um vídeo, mas uma prova de amor. quem já se sentiu assim como eu estou agora sabe do que estou falando...
bairrismo
disco do dia: "Legião Urbana", da Legião Urbana. o primeiro.

Renato Russo tinha 24 anos quando esse disco saiu. eu tinha 24 anos quando meu primeiro livro saiu. é, ainda dá tempo.
everywhere
aos poucos o teu nome
foi infectando todos os nomes
de todas as coisas e o mundo
ficou todo iluminado sem cantos
escuros para me esconder
de ti.
(...)
não conheço
os lugares onde não estás.


(saído daqui)
banda sonora
Notwist - "Consequence"

falhe com conseqüência, perca com eloqüência e sorria. deixa-me paralizado e hipnotizado, amor. puxa-me pelos cabelos e segura meu rosto, conseqüência daquilo que você quer mas não admite nem no teu sonho mais louco, talvez por achar loucura de menos, talvez porque te traga conseqüências com as quais você não quer lidar por ter medo. você é uma menina assustada, eu não quero ser teu giallo. e da falha de comunicação é que nasce o que nos cerca.
hello sunshine
o dia começa sem grandes motivações.

como se de frente pra uma grande parede
como se tudo fosse acabar até domingo, ao invés de uma vez só
e então o aviso fosse dado
e em três dias fosse possível de correr pro outro lado do mundo -
pros teus braços, talvez
bom, eu realmente não sei.

quinta-feira, abril 13, 2006

sem meias palavras
Toda a militância esquerdista, sem exceção, compõe-se de quatro tipos de pessoas: vigaristas, otários, vigaristas que estão se tornando otários sem largar da vigarice e otários que estão se transmutando em vigaristas sem deixar de ser otários. Os dois extremos são raros, são na verdade puros tipos ideais weberianos que não existem na realidade: a população esquerdista efetiva compõe-se de vigaristas otários e otários vigaristas, num perpétuo intercâmbio de posições. O sr. Palocci, que não era muito otário, entrou em transição quando começou a freqüentar a casa da sra. Jeanne Mary Corner. O sr. Lula, que não era muito vigarista, progrediu depressa.

Olavo de Carvalho, queimando tudo até a última ponta.
frase do dia
"não." - Fábio Spalding, mestre.
rango
dúvidas pairam sobre meu almoço. o que eu como hoje?

atualização (13:25): acabei indo à galeteria e pedi um marmitex convencional.

quarta-feira, abril 12, 2006

you must remember this
Rick: I congratulate you.
Victor Laszlo: What for?
Rick: Your work.
Victor Laszlo: I try.
Rick: We all try. You succeed.


(mais aqui)
lanternas japonesas
eram pra entrar aqui umas palavrinhas sobre o volume 1 do "69 love songs", do Magnetic Fields, mas estou cansado demais para escrever sobre ele. fica pra amanhã.
Concordia
apesar de não ter desistido em hipótese nenhuma de torcer por Portugal (e contra o Brasil) na Copa, ando me sentindo bastante italiano ultimamente. não sei. uma vontade doida de passar um tempo em Milão, trabalhando em algum projeto obscuro e relacionado a design ou moda - coisas que eu não sei fazer. comprar um conversível, comer McFish e tiramisú, mudar o corte dos cabelos - quem sabe também a cor - aprender a desenhar, ter um loft cheio de mobília estilosa e aparatos tecnológicos de primeira, não ouvir nenhuma música que não seja cantada em idioma italiano.

comprei uma GQ italiana hoje, me custou os olhos da cara mas é a pequena extravagância que me permito em abril, ao invés de comprar um cd. porque nunca foi segredo que sempre reagi melhor a estímulos visuais - e ver coisas bonitas numa revista me dá sempre um ânimo novo. ou melhor, me dá vontade de estampar as páginas de uma. e se os indianos sonham em reencarnar numa vaca, acho que o mais próximo que chego disso é quando quero virar um anúncio de revista italiana de moda.
lista do dia
cinco medidas sugeríveis à Varig como forma de aumentar a eficiência e reduzir custos operacionais:

1. cancelar todas as propagandas próprias e substituí-las pelo Paulo Tanner gritando "MENTIRAAAAAADA!", durante cinco segundos, logo depois de cada propaganda da Gol;
2. aumentar a lotação dos vôos e baixar as tarifas com a simples adoção do "táxi alemão"* em todos os vôos que partem ou chegam a Frankfurt;
3. legalizar o fumódromo, a sodomia e o uso de celulares a bordo: cria-se, assim, diferenciais com baixo investimento;
4. parar de pagar direitos autorais aos músicos cujas canções são executadas nos headphones, investindo em naipes do alternativo como Heron & Adrian e não lhes pagando um níquel sequer;
5. substituir o lanche quente por Cup Noodles em viagens nacionais. detalhe: o próprio cliente coloca a água quente no copinho. e se quiser refrigerante, que se contente com o caldinho do macarrão.

* táxi alemão é o nome como é conhecida, em Brasília, a prática de andar de elevador em cima de um. trata-se de um sistema que poderia ser feito com bons resultados nos aviões da Varig que fossem à Alemanha ou de lá voltassem.
licht und blindheit
soube hoje, pelo Bruno, de uma página onde há um jogo para telemóveis chamado V-Girl - your virtual girlfriend. você deixa uma grana e recebe, no seu celular, um joguinho onde aparece uma garota para dar em cima, e você vai se "relacionando" com ela - dá até pra se casar com ela, segundo consta. o lance é que você termina (zera) o jogo quando ela te diz "eu te amo".

parece um jogo interessante, é verdade: fiquei curioso para tê-lo em meu celular. mas mais do que isso, deve ser a coisa mais triste de que soube esse mês.
yeah
sugeri pro Lúcio colocar de título na próxima coluna: "Não pergunte o que o pop pode fazer por você, mas o que você pode fazer pelo pop", até porque todo mundo já sabe bem o que o pop pode fazer. falar do Scott Walker novo, do Twilight Singers, do Radiohead sem gravadora pro próximo disco, do iPod gigante que apareceu numa área de mineração. vamos ver quantas dessas idéias o bicho abraça.
della sera
Sondre Lerche ha ricordato "Duper sessions", un album dove canta jazz standards, invece del pop con che avete consagratosi. le canzione "(I wanna) Call it love" e "Nightingales" sono due momenti assolutamente stupende.
não era nada
o tempo se encarregou de provar que a Maria Mariana era hype.
creme gostoso
o Gui me avisa que um figurão da Varig esteve na mídia ontem para dizer que "a história da companhia se confunde com a do Brasil".

vejamos: então a Varig foi fundada no último ano do século XV, com capital português, resistiu bravamente a ofertas de compra dos franceses da Air France, que a fizeram no Rio de Janeiro, e aos holandeses da KLM, que tentaram uma rota para Recife mas foram expulsos. posteriormente, blasfemada por Gregório de Matos e transformada em empresa aérea oficial da remessa de ouro das Minas Gerais para a Casa da Moeda portuguesa, a Varig foi alforriada em 1822, quando Fernando Pinto, então apenas um "careca promissor", subiu a bordo de um F-16 Fighting Falcon arrendado à companhia, sobrevoou o aeroporto Santos Dumont, à época batizado de Guy Fawkes, em homenagem ao aeronauta que queria fazer o parlamento britânico voar, e, bombardeando a torre de controle, berrava ensandecidamente "EU VOU POUSAR ESSA PORRA". com medo, os portugueses entregaram o comando da Varig a Pinto, então intitulado d. Pinto I, que imediatamente privatizou a companhia.

em 1831, no entanto, d. Pinto I, com a Varig já passando dificuldades, se lascou ao tentar inaugurar uma rota que ligava o aeroporto Guy Fawkes, no Rio de Janeiro, a Dacar, capital do Senegal, onde achava que d. Sebastião estava escondido. desmoralizado, pediu asilo político ao BNDE, à época ainda sem o "S", que o mandou tomar naquele lugar. depois dessa, d. Pinto se exilou em Portugal, onde passaria o resto de seus dias comendo caviar traficado por Bruno Chateaubriand, damo da corte. sem um herdeiro sadio (a OceanAir só seria inaugurada 171 anos depois - 171, ahn?), a Varig espelhou-se na regência trina que assumira o governo do Brasil e decidiu ela própria criar uma regência, sob os auspícios da Fundação Rubem Berta.

até aí, beleza, são mais de três séculos em que a história da Varig caminhou de mãos dadas com a história do Brasil. só que o país se livrou da regência em 1840, enquanto a Fundação Rubem Berta domina a Varig até hoje, sem arredar um centímetro de seu ideário tacanha e fazendo a companhia voar em círculos.
temporal
você fala a palavra que dá título a esse poste como se chovesse torrencialmente no seu coração. mas é o meu que fica inundado.

*

é tudo uma questão de tempo. eu entro com o relógio, você com a bomba, quando tudo se encontrar explode. eu me afastei, fugi, como se correr do Holocausto para salvar a própria pele fosse fazer com que o Holocausto não continuasse. mas negá-lo é crime, então decidi limpar minha barra antes que me acusassem de exploração, negligência ou qualquer outra coisa que você me queira imputar. se é tempo no sentido cronológico ou no meteorológico, ou se os dois, isso a gente vai discutir. eu vou fazer parar a chuva, você vai contar os minutos pra me ver, uma tsunami vai alterar a rotação da terra. tudo em seqüência, pra largar de ser besta.

*

pode me chamar de piegas, de cansativo, de ultrapassado. o que você quiser. faça isso e eu te desmonto no minuto seguinte.
passos
se eu agüentar firme até o fim da luta, talvez seja recompensado. mas o que dizer quando sente-se que nem a metade do primeiro assalto chegou?

terça-feira, abril 11, 2006

na zorra
em algum dia de bebedeira, muitos anos atrás, eu devo ter assinado a mailing list do Gomez, aquela bandinha britânica que lançou bons discos até 2000 e depois experimentou uma decadência acentuadíssima. e hoje, vejam só, recebi uma mensagem deles. tudo normal, não fosse o facto de que ela veio nove vezes. como a banda não lança nada "aceitável" faz seis anos e que eu não sou surdo pra ouvir nove vezes que eles estão fazendo apresentações na Inglaterra, resolvi responder:

Hello Gomez,

I just want you to know that I received nine times the following email. As the band doesn't release a good album since "Abandoned shopping trolley hotline" and I don't want to know nine times about concerts that will happen 5.000 miles away from my home, fuck you. I've added the domain to my blackmail list.

regards

Eduardo


se algum spammer me matar cruelmente nos próximos dias, vocês sabem de que website ele era.

segunda-feira, abril 10, 2006

importante
eu não nasci ontem.
Belgian chocolate
da tarde: dEUS - "Nothing really ends". passados quatro anos e meio, ainda a melhor música do século XXI. don't say goodbye, let accusations fly.
agenda
- resolver o "caso IPVA"
- pagar a fatura do cartão de crédito
- procurar um apartamento na Asa Sul
- conversar com meu tio
- decupar fitas cassete inaudíveis e que eu vou escrever baseado nas anotações que fiz
- deixar umas cópias dos livros a quem de direito
- queimar um cd-r desse Twilight Singers novo
- almoço de negócios
- "Match point" (só num sentido, no entanto)
quatro por quatro
vontade de montar uma banda. não uma qualquer: duas guitarras, baixo e bateria, sem teclado, sem concessões, sem tocar nada com 240 segundos ou mais, sem bancar o Jack Johnson nem o My Bloody Valentine. na hora do almoço passa.

domingo, abril 09, 2006

real estate
a casa da República de Ribeirão, aquela mesma em que o Nildo trabalhava, tá pra alugar. por catorze mil reais mensais você pode sentir-se um rei (ou um ministro da economia, se preferir) no palácio que serviu de locação para tantos golpes, orgias e mutretas.
franchement
meu glorioso Santos Futebol Clube sagrou-se hoje campeão paulista. grande coisa: título relevante é de nacional para cima. eu não moro em São Paulo, ou seja, o meu time não é campeão nem daqui onde eu estou. de toda forma, parabéns a eles - afinal de contas, mesmo num campeonato irrelevante como o estadual, eles ganharam do Corinthians.
verdade tropical
"Votar em Lula de novo? De maneira nenhuma. Não voto nele agora de maneira nehuma. Acho um absurdo votar em Lula de novo." - Caetano Veloso, gênio e poeta.
vazou


"Powder burns", novo disco do Twilight Singers e primeiro candidato a disco do ano, já pode ser encontrado por aí para download.
chamar isso de pizza é insultar a redonda
texto inspiradíssimo do Daniel Piza no Estadão de hoje (obtido por meio da newsletter do PFL):

Era Lula um astronauta?
Daniel Piza


Mais uma vez o governo federal se envolve numa série de atentados à lei e nosso presidente não sabia, não comenta e não cobra nada. O desrespeito às instituições democráticas pela camarilha petista reapareceu nas tentativas do ministro Palocci de colocar o réu em suspeita, à velha maneira bolchevique, em vez de responder às acusações com clareza e álibi. A operação suja-caseiro, que contou com ajuda ou consulta de diversas instâncias do poder central, foi feita a alguns metros do gabinete de Sua Excelência. Não é de estranhar, a propósito, que Lula saiba tão pouco da vida de seus filhos - eles sempre estavam no quarto ao lado. O pior é que o argumento continua a servir de desculpa mesmo depois que o País inteiro é informado dos delitos.

Como Al Capone sendo pego por sonegação à Receita em vez do comando de crime organizado, Palocci foi derrubado por mandar violar o sigilo de uma testemunha, não por ter montado a anti-republicana República de Ribeirão Preto num QG em Brasília. Mas as investigações e punições devem seguir impiedosamente. Que um ex-ministro obviamente saudável seja ouvido em casa por um delegado da Polícia Federal já é escândalo suficiente para que um presidente responsável se pronuncie. Que Palocci tenha também procurado apoio do Ministério da Justiça, dos arapongas da Abin e dos funcionários da Caixa Econômica Federal, entre outros comparsas, deveria ser motivo de limpeza geral. Que ele tenha permitido tantos esquemas de assalto ao dinheiro público, quando prefeito e quando ministro, aponta para a cadeia.

E o que fez Lula? Um discurso emocionado e elogioso, quase pedindo perdão por sua saída. Assim como no caso Waldomiro Diniz, quando não fez o que qualquer chefe de governo sério faria - afastar José Dirceu -, e no caso do mensalão, que menosprezou como caixa 2 que todo partido político teria no Brasil, ele se eximiu de suas obrigações. Tampouco tomou qualquer atitude a respeito das inúmeras tentativas do PT de interromper as apurações; não, preferiu convocar os acusados para reunião de desagravo em dependências do Executivo, fez lobby por votos contrários nas CPIs, jogou toda a culpa das transações com Marcos Valério nas costas de seus lugares-tenentes.

Quando Ângela Guadagnin fez aquela coreografia patética para comemorar a absolvição de um deputado petista, dançou por "nosso guru" também. Não duvido que Lula - o Jamanta ("Jamanta não sabe nada, Jamanta não viu nada"), como comparou Ignácio de Loyola Brandão - tenha tomado uma caninha em homenagem a João Paulo Cunha na quarta passada, depois de saber da absolvição do nobre deputado cuja mulher sacou R$ 50 mil do Banco Rural para pagar TV por assinatura. Afinal, mesmo que a tropa de choque vermelha não tenha conseguido emplacar relatório paralelo para evitar que a CPI registrasse o evidente - a transferência de dinheiro obtido em licitações públicas para a aliança de governo -, o auge dessa crise passou. Ninguém lúcido acredita que o esquema tenha se limitado a esse punhado de saques, e muitos outros culpados ficarão impunes. Chamar isso de pizza é insultar a redonda.

Pouco antes da absolvição de João Paulo, Lula tinha conversado em teleconferência com o astronauta Marcos Pontes. O oba-oba ufanista em relação a um se compara ao que o outro já teve. O mesmo privilégio no Jornal Nacional se vira ao vivo nas noites anteriores, quando William Bonner perguntou sobre o orgulho e até a espiritualidade de Pontes, que só soube responder clichês de novela ("Não para descrever", etc.). Lula, que antigamente achava esse tipo de gasto um desperdício num país com tantos miseráveis, citou Santos-Dumont, que era um inventor de gênio, e Ayrton Senna, um grande esportista e ídolo; Pontes nada inventa e nada conquista. Pode-se até argumentar que a participação de um brasileiro nessa missão quase irrelevante tem valor simbólico, mas, como notou Fernando Reinach, o dinheiro serviria para formar mais de 150 doutores. Se esse governo tivesse feito algo importante pela ciência e tecnologia, ainda poderia se dar ao luxo. Não fez.

No livro Eram os Deuses Astronautas?, Erich von Daniken defendeu a tese de que não só existem seres inteligentes em outros planetas, mas também que foram eles que trouxeram conhecimentos para a Terra. De Marcos Pontes não virá nenhum. Mas que Lula prefere se sentir em órbita, onde suas fantasias de fazer História não são contrariadas por tantas histórias ao seu redor, não resta dúvida. Ele já perdeu toda a noção de gravidade.
Sinatra
a "Maxmen" portuguesa de dezembro de 2005 acaba de chegar às bancas aqui do terceiro mundo, com a Isabel Figueira (mais uma vez) na capa e uma bela matéria de oito páginas sobre o deus Frank Sinatra, a qual transcrevo abaixo porque vale a pena.

*

Mr. Success
Se estivesse vivo, Frank Sinatra faria 90 anos no dia 12 de dezembro. Viveu como ninguém: mulheres, copos, festas, dinheiro, sucesso, mau feitio e, claro, a voz.

por Hugo Gonçalves


Senhoras e senhores, Frank Sinatra e o seu espectáculo! Cadeiras lançadas por janelas de hotéis, ameaças de pernas partidas a inimigos, garrafas de Jack Daniels, gelo, cigarros e noites de roleta em Las Vegas; coristas, fãs, prostitutas de luxo e estrelas de cinema, amor e misoginia; amigos a quem deu a mão e amigos que expulsou de casa para sempre; vingança e filantropia em segredo. O Frank Sinatra das biografias, dos filmes, dos programas de televisão, das histórias da máfia, a celebridade, a lenda, o Senhor Estilo, Old Blue Eyes, o protagonista de episódios que se contam em noites de bebedeira com os amigos. Ele gostava de comer os ovos mexidos do pequeno-almoço no peito das prostitutas. Ele enviou uma pedra tumular, por correio, a um jornalista que o criticara e que tinha publicado a sua morada em Nova Iorque e em Los Angeles. Ele entrou numa escola que não queria estudantes negros, para explicar o absurdo da segregação racial. Diante de um auditório de 4800 alunos e pais, foi recebido com assobios. Durante quase 20 minutos ficou de braços cruzados no meio do palco. Quando se calaram, Sinatra agarrou no microfone e, sorrindo, disse: "Eu consigo arrumar cada um de vocês, seus filhos da mãe". Um dos rapazes respondeu: "É isso, Frankie. Dá cabo deles." E, de seguida, um grupo de miúdas, em coro: "Nós adoramos-te, Frankie." Ele era dono da sala.

O senhor Francis Albert Sinatra e o espectáculo da sua vida em entrevistas, livros e imagens televisivas. Sinatra dos rumores. Sinatra para o público. Um espectáculo que deveria ser sempre acompanhado pela sua música - afinal, a única forma de equilíbrio que conseguiu na sua vida, entre as depressões e a euforia. O escritor Oscar Wilde disse que punha todo o génio na sua vida e apenas talento na sua escrita, no seu ofício. Sinatra talvez discordasse: "Para quê escrever uma autobiografia? A maior parte da minha vida não poderia aparecer. A minha música. As minhas canções. Não se conseguiriam ouvir as minhas canções num livro."

"My way"

Frank Sinatra, filho único, nasceu a 12 de dezembro de 1915, em Hoboken, no estado de Nova Jérsei, mas com a cidade de Nova Iorque ali tão perto, no outro lado do rio Hudson. O parto, feito com forceps, rasgou-lhe a pele da cara e do pescoço. Durante a infância, os miúdos da escola gozavam-no por causa das cicatrizes. Frank nunca ficava quieto, lutava e, mesmo que perdesse, respondia sempre aos insultos. Os seus pais, primeira geração de imigrantes italianos nascida nos Estados Unidos, tinham um bar ilegal durante o período da Lei Seca e conheciam os protagonistas do submundo. Dolly, a mãe, era ambiciosa, influente na comunidade e dizia mais palavrões que a maioria dos homens. O pai, Marty, ex-pugilista, trabalhava como bombeiro, era reservado, falava pouco, defendia as regras de lealdade trazidas da Sicília e ensinou-as ao filho.

Frank sabia que os pais tinham dinheiro para lhe pagar um curso superior, mas abandonou o liceu. Era um aluno indesejado, pelo mau comportamento e falta de assiduidade: "O meu pai foi chamado ao gabinete do director, que lhe disse: 'Tem aqui o diploma, agora leve o seu filho para longe daqui'!"

Trabalhou a descarregar caixas de livros, na Big Apple, mas demonstrou o seu desprezo pelo trabalho manual ao despedir-se. Sinatra queria cantar e a mãe ajudou-o, comprando um sistema de som e partituras. Começou por actuar em bailes de liceu, convenções partidárias e clubes nocturnos de Hoboken. Muitas vezes era pago com sanduíches e maços de cigarro. Iniciou um namoro adolescente com Nancy Barbato, que seria a sua primeira mulher, mas desde o início clarificou as suas ambições: "Eu vou a caminho do topo e não quero uma miúda agarrada ao meu pescoço, a impedir-me de lá chegar."

"I fall in love too easily"

Com algum sucesso local em bares e clubes, Frank, aos 22 anos, acentuou uma das características da sua personalidade, já demonstrada durante a adolescência - era obcecado por mulheres. Fred Tamburro, músico que tocou com ele, disse: "Ele conseguia qualquer rabo de saia que quisesse. Tinha um apetite sexual como nunca vi. Teria fodido uma cobra se a conseguisse segurar tempo suficiente."

Um amigo de infância de Sinatra, Joey D'Orazio, descreve o sucesso do cantor: "Elas caíam-lhe em cima logo que ele saía do palco. Ele atava-as à cama (...) elas deixavam. Ninguém fazia esse tipo de coisas nos anos 30. (...) Não quero parecer indelicado, mas havia outro factor a ter em conta se querem conhecer o verdadeiro Sinatra (...) ele era bem equipado, percebem o que quero dizer? - era dotado como um cavalo e as miúdas gostavam disso. Depressa se espalhou que o Sinatra não as desiludiria." Esta fama seria comprovada por várias mulheres que dormiram com Frank, e mesmo pelo seu amigo Dean Martin que, quando lhe perguntaram num programa de rádio quem era maior, se Sinatra, se Sammy Davis Jr., respondeu: "Quando vi o Frank pela primeira vez na sauna, ele tornou-se o meu ídolo. Quanto ao Sammy, bem, podemos dizer que eu sou o ídolo dele."

Noivo de Nancy Barbato, Sinatra dormia com outras mulheres, como aliás faria no resto de sua vida, estabelecendo sempre a distinção entre o amor e o sexo, entre as mulheres legítimas e os casos em quartos de hotel, depois dos concertos. Segundo o seu amigo D'Orazio: "Eram apenas miúdas que ele usava para sexo. Estava-se nas tintas para elas, apenas gostava da Nancy. No entanto, limitar-se a uma mulher era algo que ele não conseguia imaginar." Frank terá dito ao amigo: "Somos animais, aceita-o, Joey. Somos apenas animais e temos orgulho disso."

Meses antes do casamento, envolveu-se com uma mulher que o acusou de quebra de promessa - ela garantia que Frank a pedira em casamento. O cantor foi preso e são desse tempo as famosas fotos de esquadra [N. do R.: fichamento policial] que hoje ainda são vendidas nas ruas de Nova Iorque, ao lado de miniaturas da Estátua da Liberdade.

"I got the world on a string"

No início da década de 40, Sinatra, casado com Nancy, fazia parte da banda de Tommy Dorsey. Com a canção "I'll never smile again", ficaram em número 1 no top durante 12 semanas. Frank queria ser uma estrela a solo, mas sabia que teria de aprender com Dorsey se quisesse apurar o seu estilo vocal. Dorsey tocava trombone e fazia-o como se não precisasse de respirar. Frank percebeu que a voz deveria ser tocada como um instrumento. Para isso, precisava de fôlego. Nadava todos os dias e, debaixo de água, imaginava-se a cantar de forma a saber quanto tempo era necessário para cada frase de um tema. Todo esse treino contribuiu para aquilo a que hoje se chama o fraseado de Sinatra - ele cantava como se não precisasse de se esforçar. Tinha as pausas certas, agüentava uma nota mais tempo do que qualquer outro. No palco, usava o microfone como adereço do seu desempenho. Os outros cantores ficavam estáticos diante do aparelho, Sinatra andava demoradamente de um lado para o outro, afastava-se do micro, depois aproximava-se, acendia um cigarro, interpretava as palavras: "Eles nunca percebem que o microfone é o seu instrumento. É como se fôssemos parte da orquestra mas, em vez de tocarmos um saxofone, tocamos um microfone". Sinatra era magro, tinha 1.75m, orelhas salientes e pesava pouco mais de 60 quilos. Não era um homem muito bonito ou corpulento. No entanto, sempre que estava em palco, as mulheres cediam.

Saiu da banda de Dorsey em 1942, depois de participar nos seus primeiros filmes em Hollywood. Com a II Guerra Mundial, por causa do esforço de guerra, muitos trabalhavam durante a noite e os cinemas abriam logo de manhã, com sete sessões ou mais por dia. Cada uma delas era antecedida por música ao vivo. Sinatra chegou a fazer sete espectáculos num só dia, num dos maiores cinemas de Nova Iorque, e a sua fama servia para esgotar os lugares, com cinco mil adolescentes do sexo feminino - as grandes admiradoras do cantor. Elas guardavam as pegadas dele, impressas na neve, no congelador. Procuravam a cinza e as beatas de cigarro, pagavam às empregadas de hotel para se deitarem entre os lençóis de Sinatra, depois de ele sair do quarto, e antes de fazerem a cama de lavado. Num dos concertos, desmaiaram 30 adolescentes, noutro começaram a atirar soutiens para o palco.

"The lady is a tramp"

Mesmo depois de casado, Frank continuou a gostar da promiscuidade. O seu chefe de relações públicas, George Evans, preocupava-se com essa imagem, mais ainda quando Nancy, grávida pela segunda vez, lhe ligou porque tinha a primeira filha doente e não sabia do marido há uma semana. George conseguiu encontrar o cantor, numa casa em Jersey City. Como ninguém abria a porta, entrou e descobriu Frank, na casa de banho, com uma stripper chamada Lips Luango. Mandou-o para casa. Quando lhe disse que as actividades extra-conjugais tinham de parar, Sinatra respondeu: "O teu trabalho é manter isto fora dos jornais. Não te metas na minha vida, George, a Nancy está bem." Frank apanhou gonorréia de Lips Luango.

Com 32 anos, Frank tinha duas filhas e iniciou uma relação com a actriz Ava Gardner. Nancy sabia de outros casos com actrizes pelos jornais. Mas era uma mulher católica, italiana, nos anos 40, que aceitava a submissão feminina e os impulsos masculinos. Ela não queria ser uma divorciada. Nancy acreditava que o facto de um homem entregar dinheiro em casa para os filhos era, por si só, uma qualidade. Por essa altura, Sinatra visitou o chefe mafioso Lucky Luciano, exilado em Cuba, e surgiram rumores de negócios entre o cantor e o crime organizado. Por causa disso, e das amantes, Sinatra ganharam uma péssima imagem pública.

Ele estava cansado - demasiados filmes e actuações ao vivo - as suas interpretações pioraram e os seus concertos em Nova Iorque, em 1949, não chegaram a esgotar. Por causa do álcool, dos cigarros, das insónias, a voz enfraquecera. Num período de desilusão, Ava Gardner era uma saída - a largura da boca, os olhos verdes, um temperamento que assustava os homens. Frank gostava de mulheres fortes, que o desafiassem. Embebedavam-se os dois, deitavam-se tarde e viam combates de boxe. Num dos primeiros encontros, andaram a disparar uma pistola num carro em andamento, atingindo candeeiros públicos. Quando, num quarto de hotel, depois de discutir com o crítico de um jornal, Frank abriu um buraco na parede com o telefone, a actriz agarrou no outro telefone e lançou-o pela janela. Eles eram iguais. Lana Turner, actriz e ex-amante do cantor, avisou Ava Gardner sobre ele: "Não há uma actriz célebre que não tenha chorado no caralho de Frank Sinatra."

Entretanto, Nancy fizera uma plástica ao nariz, mudara de guarda-roupa, arranjara os dentes, mas o marido anunciou-lhe que queria separar-se. Ela bateu-lhe, expulsou-o de casa e mudou as fechaduras, acreditando sempre que, como nas vezes anteriores, ele regressaria a casa. Frank casaria com Ava em 1952, logo depois do divórcio.

"I'm a fool to want you"

O relacionamento do novo casal parecia um combate, um jogo de tortura emocional. Frank, dependente de comprimidos para dormir e para acordar, e numa fase descendente da sua carreira, mostrava sinais de fraqueza. Meses antes do casamento, Gardner estava a filmar em Espanha e dormiu com um toureiro. Sobre essa noite, afirmou: "Os homens tratam as mulheres como se fossem merda. Bom, eu por vezes trato os homens da mesma maneira." O toureiro deu entrevistas na imprensa internacional, dizendo que ia se casar com Ava. Depois da humilhação, Frank confessou ao seu primeiro agente, Hank Sanicola: "Eu adoro tudo nela e só quero que ela sinta o mesmo. Pouco a pouco, estou a morrer." Com 34 anos, Sinatra não tinha dinheiro para pagar a pensão de alimentos a Nancy nem os impostos. Foi interrogado num caso de investigação sobre a máfia. Tornou-se um viciado em Ava Gardner, parecia que a actriz era o Frank Sinatra de antigamente e ele uma mulher agonizando por causa da falta de atenção. Os papéis tinham-se invertido. Tentou suicidar-se três vezes, embora de forma pouco convincente: comprimidos, gás e corte dos pulsos. Num concerto em Chicago, uma sala com 1200 lugares tinha apenas 150 espectadores e a sua editora discográfica, a Columbia, cancelou-lhe o contrato.

Durante a rodagem de um filme em território africano, Ava descobriu que estava grávida. Viajou para Londres, sem avisar Frank, e abortou. Segundo os amigos de ambos, esta foi a pior traição de Ava, algo que Sinatra nunca lhe perdoaria. Hank Sanicola conta que o amigo lhe confessou: "Devia ter-lhe dado uma carga de porrada pelo que me fez a mim e ao bebé, mas amo-a demasiado. Outra gaja qualquer, juro por Cristo, e estaria morta."

Frank tentou durante meses entrar no filme "A um passo da eternidade", no papel de um ítalo-americano, uma personagem que ele conhecia tão bem. Era um deles, crescera entre eles em Hoboken. Há quem garanta que conseguiu o papel com a ajuda da máfia e ainda quem afirmou que a cena do filme "O Padrinho" [N. do R.: "O poderoso chefão"], que mostra um cantor em decadência a pedir ajuda a Don Corleone para integrar o elenco de um filme, foi inspirada em Sinatra. No "Padrinho", quando o produtor rejeita o cantor para o papel, a máfia põe-lhe a cabeça de um cavalo na cama. Sinatra desprezava Mario Puzzo, o autor da história, por causa deste episódio de ficção - que Puzzo nunca confirmou ser verdadeiro. Sinatra dizia que as pessoas acreditavam que a personagem do filme era mesmo eel. Quando um dia tentaram apresentar Puzzo ao cantor, num restaurante, Frank insultou-o sem nunca levantar a cabeça do prato. Puzzo disse sobre esse encontro: "Pensei que ele fosse me matar".

Frank Zinnemann, o realizador de "A um passo da eternidade", que não queria Sinatra, afirmou ter ficado impressionado quando este fez os testes - ele sabia o papel todo sem precisar do guião, foi perfeito. O filme acabou por ser um êxito de bilheteira, com Sinatra a conseguir um contrato com a Capitol Records para voltar a gravar. Era um homem mudado, sem o ar adolescente que conquistara tantas raparigas. Deixou os laços e passou a usar fatos escuros e gravatas. Na cabeça, tinha sempre um chapéu. Estava outra vez no topo.

"The best is yet to come"

Depois de seis anos juntos, em 1954, Frank Sinatra e Ava Gardner divorciaram-se. Ela confessou a uma amiga: "Quando ele estava em baixo e longe de tudo, era meiog. Mas, agora que tem outra vez sucesso, voltou a ser o arrogante de sempre." Nesse mesmo ano, Sinatra ganhou o Oscar de melhor actor secundário com "A um passo da eternidade" e voltou a esgotar salas de espectáculo com os seus concertos.

Nos anos seguintes, manteve relações esporádicas com as actrizes Marilyn Monroe, Judy Garland, Lauren Bacall e Kim Novak. Uma lista de luxo! Esses foram também os anos de origem do Rat Pack, nome dado a um grupo de amigos anti-sistema, que gostavam de beber e que tantas vezes se comportavam como crianças mal-criadas. Numa viagem no novo Rolls-Royce de um agente literário, Sinatra e Dean Martin, membros do Rat Pack, acompanhados por Judy Garland, aborreceram-se com a gabarolice do proprietário, que apenas falava do carro, e fizeram uma fogueira no banco traseiro. Quando, um dia, um amigo de Frank lhe ligou para pedir dinheiro emprestado para poder pagar a conta de um hotel, o cantor enviou-lhe um pára-quedas e 30 mil dólares em dinheiro falso. No dia seguinte, porém, pagou a dívida.

Durante os anos 60, o temperamento de Sinatra tornou-se ainda mais inconstante. Batia, destruía, bebia e jogava muito. Era um homem inquieto e insatisfeito. No dia em que os estúdios RKO o obrigaram a estar presente na estreia de um de seus filmes - ele odiava que lhe dessem ordens - Frank levou todos os seusamigos do Rat Pack para o hotel. Beberam 88 cocktails Manhattan. Na sua suíte, a meio d anoite, mandou acordar o dono de uma loja de música e um camionista e encomendou um piano. Nenhum de seus convidados sabia tocar. Na manhã seguinte, levou os amigos às compras. Cobrou todas as despesas ao estúdio que o obrigara a estar na estreia.

Estes foram os seus anos de Las Vegas, dos espectáculos com Dean Martin, Sammy Davis Jr., Peter Lawford e Joe Bishop, a equipa do Rat Pack - apenas a actriz Shirley MacLaine era admitida, por ser considerada one of the boys. Mesmo em segredo, Sinatra ajudou Sammy Davis Jr. durante toda a sua carreira, num país onde os negros viajavam na parte de trás dos autocarros e tinham casas de banho separadas dos brancos - Sammy, casado com uma sueca, irritava ainda mais os puristas da raça. Eles dormiam com coristas, com prostitutas. Quando rodaram o filme "Onze homens e um segredo", em Las Vegas, o descontrolo era tal que Sinatra entregou a chave do quarto a uma rapariga desconhecida, dizendo-lhe: "Sobe, que eu já vou". Ela era casada com o director de casting. Muitos anos mais tarde, a tal rapariga contou: "Eu até poderia ter acabado na cama com ele porque, afinal de contas, ele era o Frank Sinatra, mas como se atreveu a dar-me ordens daquela maneira?"

"Fly me to the moon"

Sinatra fazia 20 milhões de dólares por ano. Filmes, discos, concertos. No início da década de 60, ajudou John Kennedy a ganhar as eleições primárias na Virgínia Ocidental, com a sua presença em comícios. Diz-se que fez a ponte entre JFK e Sam Giancana, um capo da máfia nova-iorquina, que terá ajudado a eleger o então senador do Massachussets. Frank fez concertos de angariação de fundos para a campanha de Kennedy e organizou a cerimónia de posse quando ele se tornou presidente - também lhe arranjou mulheres, que era coisa de que este também gostava. E muito. Depois das eleições, o clã Kennedy, receando as alegadas ligações de Frank aos mafiosos, afastou-se e todas as chamadas de Sinatra foram recusadas. Essas ligações mafiosas nunca foram provadas, nem mesmo pelo FBI. Sempre que confrontado com elas, Frank respondia que freqüentava os mesmos lugares que os mafiosos e que era normal que os conhecesse e bebesse com eles. Mas ele próprio brincava com essas alegações, quando no filme "Cannonball" (1976) apareceu numa ponta, a fazer de mafioso.

Sinatra casaria mais duas vezes, primeiro com uma actriz de 19 anos, em 1966, Mia Farrow (estiveram juntos um ano e meio), e em 1976 com Barbara Marx. Nesses dez anos, entre os dois casamentos, passou uma noite com a viúva Jackeline Kennedy e continuou a encontrar-se com prostitutas. Frank gostava de contar o que se passava na cama. Mas, segundo os amigos, nunca mencionou a noite com Jackeline. Nos dias seguintes ao encontro, quando Jackeline foi alertada por uma amiga que Sinatra era o homem que providenciara mulheres a John Kennedy, ela decidiu nunca mais atender o telefone ao cantor e devolveu, sem abrir, um pacote com uma pulseira de diamantes de 25 mil dólares.

Na mesma semana, Frank passou de uma primeira-dama para as prostitutas. Um dos seus assistentes, Bill Stapley, lembra-se de entrar no quarto do Waldorf Astoria, em Nova Iorque, antes das oito da manhã, e de encontrar profissionais na cama de Sinatra. O se trabalho era tirá-las do quarto e pagar-lhes.

"I'm gonna live till I die"

Nos anos 80, Frank continuou a dar concertos e a vender milhões de discos, mas os seus amigos iam morrendo. Dean Martin, Peter Lowford, Sammy Davis Jr. - e com 70 anos, Sinatra começava a ter problemas de saúde. Bebia muito. Precisava de telepontos nos concertos para não se esquecer da letra. Numa noite, desidratado, caiu com a cara no chão do palco. Teve um problema nos intestinos que, durante algumas semanas, foram substituídos por um saco. Ele odiava a fragilidade, detestava depender dos outros, como se detestara a si próprio durante a relação com Ava, embora sempre tenha confessado que ela fora a mulher de quem mais gostara. Porque, apesar da promiscuidade e da indiferença com que, por vezes, tratou as mulheres, ele era um romântico, que julgava que o amor era a única salvação. Quando internado, continuou a fumar. Depois da morte de Dean Martin, disse: "Eu sou a seguir. Não tenho medo. Por quê haveria de ter? Toda a gente que conheço já lá está." Sinatra não era um modelo de virtudes morais, tratou mal pessoas e, como disse Sammy Davis Jr., o talento não desculpa tudo. Ele nasceu em 1915, contudo, numa era tão higiénica quanto a nossa, e as suas posições anti-sistema - contra a segregação racial, por exemplo - o seu inconformismo, o seu hedonismo, a insolência, continuam a ser motivo de fascínio. Somos observadores deslumbrados do que ele viveu, por vezes imitadores invejosos. Seguindo o título de uma das suas canções, Sinatra viveu, mas viveu mesmo, até morrer. E como disse Dean Martin: "It's Frank's world. We're just lucky to live in it."

Frank Sintra morreu com 82 anos, de ataque cardíaco, com Barbara a seu lado. É impossível fugir ao lugar comum e não dizer que ele nos deixou a sua música. Mas era isso que ele quereria. Este artigo foi escrito a ouvir os seus discos. E as letras das suas canções - e A Voz - continuam a fazer todo o sentido.
você tem dado em casa?
sempre fui contra a adoção de estatísticas no blógue, mas de dois meses para cá tenho acompanhado atenta e obsessivamente as freqüências de acesso aqui.

este blógue não está listado no Google, então não é um campeão de audiência: recebe, em média, trinta e cinco acessos nos dias de semana e vinte e cinco nos finais de semana, com picos de quarenta e vinte e oito, respectivamente. uma marca nem um pouco desprezível, claro.

Brasília e São Paulo disputam a primeira colocação de maiores visitantes: cada dia uma está na frente. e a terceira colocada é... Caxias do Sul. eu não conheço ninguém de Caxias do Sul, mas imagino que sejam meus parentes - há um ramo bastante grande da família Palandi em Caxias e em Bento Gonçalves. e se algum deles estiver lendo este poste, gostaria que entrasse em contacto comigo - fico honrado pela visita e adoraria trocar idéinha.

sábado, abril 08, 2006

fyi
por favor, esse negócio de não ir à Landscape não é pra evitar ninguém não: eu não gosto de lá, só isso. se me chamarem pra ir à Trend, eu vou. na hora e sem reclamar do preço.
burrão
a coluna do Luso Ribeiro essa semana termina com a palavra "Poim!". eu, num arrombo de ler tudo rápido, achei que fosse "Potim!", a cidade vizinha a deprelândia. que pena que não era. o mau gosto continua reinando...

sexta-feira, abril 07, 2006

hola
o Diário Catarinense também deu destaque ao livro, publicando a seguinte nota:

Como John Lennon Pode Mudar sua Vida, de Alexandre Petillo, Eduardo Palandi e Pablo Kossa. Geração Editorial (São Paulo). 318 págs. R$ 49

Disfarçado de livro de auto-ajuda, esta biografia apresenta ao grande público, de forma bem-humorada, detalhes da vida do ex-Beatle John Lennon que somente os fãs mais dedicados conhecem. Utilizando como base diversas biografias dos Beatles e do casal John e Yoko, o livro traça um panorama completo de um dos principais artistas populares da segunda metade do século 20, compositor primoroso, figura polêmica, ativista político, marido apaixonado (somente da segunda mulher, Yoko) e pai dedicado de Sean, o seu segundo filho (o primeiro, Julian, nunca recebeu muita atenção de Lennon).

E muitas, mas muitas histórias da carreira da maior banda de todos os tempos, desde o início, dos tempos de aprendizado em Hamburgo, à consagração mundial detonada a partir da conquista da América, em 1964. E também detalhes da carreira solo empreendida após a dissolução dos Beatles, um processo que iniciou em 1969 e que se transformou numa forte ruptura em 1970, com a briga pública em jornais entre John e Paul McCartney. Acompanha uma bem pesquisada cronologia da vida do músico e de quem foi importante para ele, a discografia completa desua carreira solo, junto com os Beatles, e letras de algumas de suas principais canções.


e a livraria Siciliano do Pátio Brasil Shopping, aqui em Brasília, também já tem o livro. compraí, gente boa!
resgate
fui ao aeroporto Juscelino Kubitschek na terça à noite, com o Lelo, pra tentar achar um exemplar de "O dia", que fez uma matériazinha esperta sobre o livro do Lennon, como mencionado aqui neste blógue uns dias atrás. infelizmente, a banca local não tinha o jornal e eu fiquei sem - precisava de pelo menos dois, um pra mim e outro pro Alexandre. na saída do aeroporto, indo da área coberta para o estacionamento, achei um carrinho de bagagens com um livro na cestinha. era "Fortaleza digital", do Dan Brown. não li o "Código da Vinci" nem tenho vontade, mas ali, olhando o livro abandonado, cheguei a pensar que se tratava de bookcrossing, aquela parada em que você dropa um livro, dando as coordenadas, e outra pessoa vai lá e o pega, como forma de promover um intercâmbio cultural anônimo e dividir com as pessoas, sem pedantismos, aquilo que você gosta.

mas será que um adepto do bookcrossing leria Dan Brown? provavelmente não, então aquilo parecia simplesmente um livro abandonado a esmo. dentro dele, uma folha com informações sobre um vôo, possivelmente o da proprietária do livro: ela vinha de São Luís para cá. e essa folha acabou se tornando mais interessante pra mim... comecei a imaginar quem seria essa pessoa, quantos anos ela tinha, o que veio fazer em Brasília, por quê comprou esse livro, por quê o largou, etc. dava uma outra trama, talvez até de qualidade superior à do livro abandonado. de toda forma, peguei o livro e trouxe-o para casa, onde deixei com o Lelo, que provavelmente não o vai ler. caso isso se concretize, vou eu mesmo ler o "Fortaleza digital" e, gostando ou não, abandoná-lo-ei em algum lugar da cidade.
dizem até que era zura!
de "O evangelho segundo Lúcio", na Folha de hoje:

O líder do Nirvana foi encontrado morto em 1994, 12 anos amanhã, depois de cometer suicídio (há controvérsias) em sua casa, em Seattle. E a primeira homenagem sabida deste aniversário do óbito do líder de uma revolução roqueira aconteceu no final de semana passado, no... "Domingão do Faustão".

Vou contar como me venderam: a horas tantas, entre a apresentação de uma atração popular, uma patetada gravada por câmera amadora e o blablá de algum figurão de novela, as dançarinas do programa estavam bonitinhas e ensaiadamente dançando "Smells Like Teen Spirit", o hino da geração 90, na versão original e tosca do Nirvana. Entre uma perna erguida, uma voltinha em si mesmas e um gestinho insinuante, ouvia-se a voz de Cobain gritando "I feel stupid and contagious / Here we are now, entertain us".


pois é. adivinha quem foi o paiaço que ficou assistindo isso e resolveu contar...
saída
insônia: viver sem fronteiras.

quinta-feira, abril 06, 2006

mafuzado até o sexto
it's a small world after all: eu já paguei sapo de um indiciado pela CPI dos Correios. assim, na lata dele.

no segundo volume do relatório final disponibilizado pela página do Senado Federal, que ainda está sem as 35 modificações feitas ontem, aparece, à página 493, uma mênção a "IRB - caso Guaratinguetá", e enquadra o comendador Giampaolo Bonora, cônsul honorário da Itália na cidade, no crime de peculato (artigo 317 do Código Penal mandioca).

o comendador Bonora é dono da Companhia Fiação e Tecidos Guaratinguetá, uma empresa têxtil que produz cobertores, mantas e semelhantes, mas que é conhecida na região pela facilidade como pega fogo - de brainstorm, lembro-me de quatro ocasiões em que suas instalações se incendiaram. e numa delas o Instituto Brasileiro de Resseguros, órgão que foi investigado por crocodilagem, pagou uma apólice à empresa do comendador Bonora... feita nove meses depois do incêndio.

estudei italiano por um ano no consulado italiano da cidade, que é tocado por ele. um belo dia il commendatore visitou as salas de aula, no exato instante em que eu perguntava à minha professora como se diz "farofa" em italiano. dona Gilka, uma senhora muito paciente e de didática perfeita, disse-me que não existia farofa na Itália - coisa que já sabia - nem nada parecido. sugeri que fosse "la faroffa", com a letra "o" fechada e dois éfes, de acordo com a ortografia do idioma.

nisso o comendador pôs o narizinho na porta e a cumprimentou em italiano. reconhecendo o homem, não perdi a oportunidade de estender o debate, bastante pertinente, e mandei:

"- commendatore, como se dice 'farofa' in italiano?"
"- che?"
"- si, farofa, quella cosa che mangiamo"
"- non ha farofa in Italia."
"- perché non possiamo parlare 'faroffa', con le due 'f'?"

ele não achou graça. minha professora interveio e acalmou o comendador, que deve ter se incendiado por dentro. ops.
the simple story
e quem diria que eu estaria de volta ao ponto de partida, um ano depois?
sono nato a Cremona
tô pensando em ter um Lancia Ypsilon quando for comprar meu segundo carro (o primeiro será um wide-body). as opções naturais, o novo A-Klasse e o Mini, são até interessantes... mas não têm aquele apelo italiano irresistível do Ypsilon.

tirando os Fiats e os Ferraris, acho que qualquer carro italiano (seja Lancia, Alfa Romeo ou Maserati) me balança. nacionalismo da minha parte? meio improvável... a Ford Galaxy é montada em Portugal, mas nem por isso gosto dela.

até vejo a cara de espanto do Rogério, que vai me escrever dizendo que a Lancia é uma m****, que eu devia era ter um Fox, que é vendido no Brasil e tem área envidraçada pequena, "além de ser construído segundo os padrões germânicos" - ma non sono tedesco, ma un mero apassionato.
mais uma coisa
ao contrário do que a "Tribuna do Brasil" escreve, eu não sou jornalista. nunca fui, não pretendo ser. como dizia o Dave Rowntree, baterista do Blur, "eu quero é ser o rei".
around
a Livaria Loyola também tem o nosso livro, pelo preço padrão. e a "Tribuna do Brasil", jornal brasiliense, noticiou o nosso lançamento, bem aqui. onde é que eu acho uma edição de três dias atrás?

quarta-feira, abril 05, 2006

maravilhas do mundo moderno
pela primeira vez na vida eu usei o drive-thru do McDonalds na condição de motorista. sei lá, me senti tão moderno fazendo isso, mesmo sabendo que os bodinhos fazem isso no Brasil há pelo menos vinte anos...

terça-feira, abril 04, 2006

crime e castigo
estava ali na livraria do Terraço Shopping, matando tempo, quando uma imagem no televisor da loja me chamou a atenção: uma bela loira a cantar alguma coisa num concerto. dois segundos depois, vi que se tratava da Bianca Jordão (escrito errado mesmo: aqui não há espaço para numerologia), cantora do Leela, destruindo "Vamos fazer um filme", da Legião Urbana, uma das músicas que me salvou a vida em 1998.

descobri, então, que estive no inferno por cerca de seis segundos, o tempo que a nada talentosa garota demorou para cantar o verso "e no meio de uma depressão", um dos últimos da letra. porque eu realmente tive uma depressão por seis segundos, dado o desprezo que a moça imprimia às belas palavras do Renato. uma coisa é você descaracterizar uma canção clássica, e outra, bem diferente, é transformá-la em lixo - o Leela fez isso com "Vamos fazer um filme".

seria digno do poder judiciário brasileiro ignorar a cena, sem pensar sequer num castigo para a moça. e eu achei um, como descrevo abaixo.

*

rolou um poste hoje cedo sobre "Can't get you out of my head", da Kylie Minogue. um pressentimento de que hoje o dia é do pop feminino. depois que saí da livraria e pus-me a matar tempo na porta do shopping centre, lembrei-me de quando voltava do aeroporto para casa, no começo do ano, depois de embarcar minha irmã de volta para São Paulo. sem nenhum cd interessante à mão, liguei na Antena 1, e peguei "I'll stand by you", dos Pretenders, sendo executada desde o começo.

sempre achei essa música muito bonita, desde que a ouvi pela primeira vez, no meu LP da trilha sonora da novela "A viagem", essa do Vale a pena ver de novo. mas fui ouvindo e prestando mais atenção na letra. acho que coincidiu de eu estar fragilizado na hora, mas o fato é que eu fui do balão do aeroporto até a EPTG chorando ao som dessa música, e com a certeza de que é uma das músicas mais bonitas que conheço... como provam os trechos abaixo:

nothing you confess
could make me love you less

(...)

if your mad, get mad
don't hold it all inside
come on and talk to me now
but hey, what you've got to hide
I get angry too
but I'm a lot like you


dessa forma, um bom "castigo" para o "crime" da Bianca Jordão seria forçá-la a ouvir uma coletânea dos Pretenders que tenha "I'll stand by you" - quem sabe assim ela tomasse vergonha na cara.
adeus às armas
hoje cedo eu tive mais brigas do que nos últimos três anos e meio. e isso apesar da briga ser contra alguém com quem não quero brigar, isso porque eu faço de tudo para mostrar para essas pessoas que não tenho arma nenhuma em minhas mãos, isso porque uma vez eu estive tête-à-tête com ela e disse "tô deixando minhas armas no chão, pode ver. não quero brigar com você".

brigar é uma merda. em metade das vezes, é um acto de coragem. na outra metade, uma burrice sem tamanho. independente de qual categoria essa briga se encaixa, eu estou cansado demais para brigar. meu exército hoje cuida de coisas mais importantes, o país cresce 5% ao ano. não são os doze por cento da China, mas a vitória do pragmatismo.
salvação da lavoura
música da manhã: Kylie Minogue, "Can't get you out of my head". a música mais grudenta do século. "Hey ya"? "Egüinha pocotó"? "Satisfaction" do Benny Benassi? que nada. essa paulada da Kylie lava qualquer concorrente...
manual da empulhação
você sabia que há pessoas utilizando o jornal de maior circulação do país para te empulhar? bem, aposto que sabia. todos sabíamos, ou deveríamos saber. o preocupante é que nunca foi tão explícito quanto nos tempos atuais.

acabei de ler um texto no jornal, assinado por um cara que conheço pessoalmente, e que diz assim (o grifo é meu):

Em 2005, Danger Mouse esteve ocupado produzindo "Demon Days", o segundo disco do Gorillaz, e o disco "Dangerdoom", com o rapper MF Doom. Neste 2006, além do GB, ele será notícia também porque produz o novo disco do Rapture, banda que explodiu o conceito disco-punk.

ou seja, o jornalista deixa de noticiar um facto e torna-se um profeta: "ele será notícia também". o texto antes faz referência ao Gnarls Barkley, projeto do tal Danger Mouse, como já sendo notícia. você já ouviu falar? sabe se esse "projeto" é parente do Charles Barkley, por exemplo? não. o Gnarls Barkley só foi notícia no Reino Unido, um país tão sério que o disco dos Arctic Monkeys e o primeiro do Libertines foram colocados na lista dos 10 maiores discos britânicos da história.

assim, ele quer dar a notícia aqui, mas ninguém nunca ouviu Gnarls Barkley no Brasil. mas o pior é a parte grifada: o Rapture explodiu o conceito disco-punk? até onde sei, se um dia existiu esse conceito, é coisa dos clichês que conhecemos (Blondie, Gang of Four, talvez o Prodigy). não. o Rapture tocou no Brasil em 2003, mas sabiamente ninguém fez questão de ouvir. pior, seu breakthrough album, o tal "Echoes", está sendo vendido a 13 reais numa loja do Terraço Shopping, aqui perto de casa. e nem assim eu compro.

triste ver que a Folha confia em profetas para dar notícias. desse jeito, até eu arrisco a profetizar algo: o futuro do tal "jornalismo cultural" no Brasil é negro.