segunda-feira, outubro 09, 2006

... e a gente ainda não aprendeu nada

hoje fez cinco anos que o maior político e diplomata brasileiro - e uma das mais brilhantes crias do país - faleceu: no dia 9 de outubro de 2001, nosso querido Roberto Campos nos deixava, aos oitenta e quatro anos, depois de longo problema de saúde e um interminável rol de serviços prestados ao Brasil.

estou lendo "A lanterna na popa", a enorme autobiografia dele, escrita em 1993-94. ele teve uma série de grandes idéias para o país e conseguiu colocar algumas na prática durante o governo Castello Branco, mas a maior parte delas foi ignorada por esse país ignorante, rico em patriotismo e ufanismo deslavados, pobre em aceitar que não fazemos mais parte do medievo. será que elas adiantariam para o Brasil, se implantadas? nunca vamos saber. mas ele previu diversas catástrofes para o país e foi uma ilha de lucidez em meio aos Brizolas da época.

como se não bastasse, foi testemunha presencial dos grandes momentos do século vinte: participou da conferência de Bretton Woods, da criação do BNDES (à época, sem o "S"), foi embaixador do Brasil nos Estados Unidos quando Kennedy morreu, participou do gabinete do melhor governo da história brasileira e esteve junto à corte de Saint James, como embaixador no Reino Unido. elegeu-se senador na década de 1980 e, como deputado, já combalido pela doença, viajou do Rio de Janeiro a Brasília para, numa cadeira de rodas, proferir seu voto a favor do impeachment do presidente Collor.

eu só não digo que morro de inveja de um currículo assim porque antes morreria de orgulho. como já disse aqui, Roberto Campos costumava dizer que não fora brilhante, apenas passara a vida a fugir da mediocridade. um gênio humilde. ontem foi anunciado o prêmio Nobel de Economia deste ano. fico me perguntando se nosso caro Bob Fields (apelido cunhado pelos que o julgavam um entreguista do patrimônio público brasileiro) não merecia um, pelo que fez e pelo que deixou pensado mas ninguém teve coragem de fazer. e me dou a resposta, afirmativa, logo depois.

gente assim devia ser eterna. mas, mais do que isso, devia ser mais ouvida e mais presente naquilo que a gente faz...