sexta-feira, outubro 13, 2006

Vênus

passou "Lost in translation" no TNT, e aproveitei a oportunidade para assisti-lo pela segunda vez. o filme, chamado aqui de "Encontros e desencontros" e em Portugal de "O amor é um lugar estranho", já foi objeto de comentários quando pintou nesse país, em janeiro de 2004. assisti-o com a Lucia, em São Paulo, no dia da estréia.

na época, ele me pareceu perturbador. hoje, apesar de algumas (poucas) mudanças na minha vida nesses três anos, ele continua perturbador... só um pouco menos. não sinto, aqui em Brasília, a mesma asfixia urbana que sinto em São Paulo até hoje e que é parecida com a dos protagonistas em Tóquio - diminuída, no entanto, porque não estou diante de um idioma que não entendo, escrito num alfabeto que não é o "meu".

hoje em dia, a coisa que mais me chama a atenção no filme é a solidão. provavelmente, porque nunca me senti tão sozinho na minha vida quanto agora. não é muito bonito admitir isso, nem quer dizer que se sentir assim tenha efeito terapêutico - quando muito, é um anestésico. mas é engraçado como há quem esteja com zero, uma, duas, três, seicentas mil pessoas e se sinta sozinho em todas as ocasiões.

não sei se é meu caso: faz quase vinte e cinco anos que convivo diariamente comigo e ainda não aprendi esse ponto a meu respeito, mas deve ser verdade. ou, pelo menos, uma tendência. conheço quem me diga que atraio as pessoas erradas, o que é uma mera meia-verdade (ou meia-mentira, depende de quem analisa).

voltando ao filme: quem vê a Scarlett Johansson hoje não encontra quase nenhuma conexão com a Scarlett do filme. que ela continua linda, é fato. só que houve, nesse ínterim, a sexualização da moça. hoje ela é aquela mulher fatal, a loira da moda, a mulher altamente glamourosa que enverga vestidos de sete mil dólares na capa da Vogue, onde aparenta mais que os 21/22 anos que tem. no filme não: ali, com aquele olhar curioso, ela é apenas a mulher com quem você gostaria de ficar abraçado pelo resto da vida, sem dizer nada, reservando os lábios de ambos a outro tipo de coisa.

no "Lost in translation" ela oferece, mais do que as cenas em que está de calcinha, a oportunidade de ser igual a você, com seus medos, seus problemas e seus complexos, durante aquele período. você acredita nela quando, na cena do videoquê, ela dubla "Brass in pocket", dos Pretenders, e repete que é especial. mas está sozinha, não se esqueça.