segunda-feira, outubro 16, 2006

uma estranha teoria

Ocorreu-me, em 1969, uma experiência pitoresca ao ser convidado pelo governo francês, por proposta do Hudson Institute, então dirigido por Herman Kahn, para participar de um grupo de trabalho sobre o desenvolvimento da Córsega.

(...)

Logo na primeira reunião do grupo em Ajaccio, pedi dados sobre a renda por habitante da ilha. Os dados disponíveis se referiam à França, em seu conjunto, e aos departamentos mais importantes. Dados desagregados teriam que ser telegrafados de Paris.

- Não tem importância - ponderei. - Amanhã trarei minha própria estimativa.

Gastei o fim da tarde e noitinha visitando bares e entrando em restaurantes e albergues, sempre com o cuidado de pedir acesso ao banheiro. No dia seguinte voltei com minha estimativa: 600 dólares per caput. Acertara na mosca. Quando, dois dias depois, chegaram as estimativas de Paris - 606 dólares - Robert Panero, surpreso, perguntou-me o segredo de minha intuição econômica.

- Nada reflete mais de perto a renda média das comunidades - disse eu aos perplexos membros do grupo - do que a higiene ou falta de higiene e a acridade do odor nos mictórios. E os indicadores de Ajaccio sinalizam-me um nível de 600 dólares por habitante.


Roberto Campos, "A lanterna na popa", 2ª edição, 1994. páginas 918 e 919.