terça-feira, janeiro 06, 2009

serrote

(para a Heloísa e o Fabiano)

como alguns aqui sabem, moro em um bairro que, apesar de muito bom, tem aquela aura de subúrbio. não um subúrbio qualquer - em Brasília, essa é a função do Guará -, mas um subúrbio americano vertical. o Sudoeste pode ser cômodo, mas perde aquele ar fresco e aquele cool factor que a Asa Sul e o Lago Sul esbanjam e a Asa Norte tem em conta-gotas.

agora que já tive meu estágio obrigatório no subúrbio, hora de me vender por completo e me perder em meio à parte da cidade que interessa: em outras palavras, é hora de me mudar para a Asa Sul. e o casal Otto e Carol, que por lá já mora, também está procurando um novo apartamento. então passamos a segunda e a terça-feira andando de carro, cheirando tinta fresca de apartamentos em reforma, ouvindo os próprios passos no chão sem móveis que ecoa até nossos suspiros, tirando cópias de documentos para locadores.

estou fisicamente cansado, confesso. mas em algum lugar de mim acho tudo isso legal, embora não a ponto de pedir mais - pelo menos não tão cedo. às vezes penso que seria legal fazer um documentário sobre isso, mas o resultado não ficaria tão interessante. serviria mais como um instantâneo do Zeitgeist de nossas vidas, ou quando muito seria uma versão brasiliense do "Caindo na real" (alguém aí lembra dele? Alê?) quinze anos depois, com uma nova situação: temos juventude, temos grana, e agora perguntamos: o que fazer com isso e as outras coisas que temos? até onde a vida vai? existem novidades no futuro ou agora é só se perder em meio à burocracia e à falta de ambição?

isso me preocupa, por um lado. por outro, esboço um sorriso e vou em frente: sei o que posso conseguir e vou trabalhar para chegar lá.

*

por enquanto, voltemos para as preocupações do imóvel: será caro? será muito grande para morar sozinho? será que não era melhor algo mais próximo do trabalho? esse piso precisa de Synteko ou assim tá legal? penso em muitas dessas coisas todo santo dia, e muitas vezes durante o dia. talvez fosse legal colocar isso no documentário, caso ele saia. alguém aí sabe escrever roteiros?

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