quarta-feira, dezembro 31, 2008

Paraibuna 1

(post censurado por alguns dias, finalmente liberado depois que vi que era inofensivo)

geograficamente, a minha maior paixão é Brasília, não tem jeito. mas existem alguns outros lugares que moram no meu coração. um deles é Paraibuna, uma cidade de quinze mil habitantes no interior de São Paulo, e terra da minha família por parte de pai: se eu saio do DF para passar o Natal nesse estado frívolo, meu único prazer que não se relaciona às pessoas queridas e a alguns detalhes culinários pontuais é caminhar pelas ruas de Paraibuna.

 

minha avó mora lá, e eu lhe havia prometido uma visita antes do dia de Natal, já que nesse dia a casa dela chega a ter quarenta pessoas, entre os filhos, netos, bisnetos e agregados que por lá aparecem. sendo assim, peguei o carro da minha irmã e percorri cento e dez quilômetros até Paraibuna, a partir de Deprelândia.

 

felizmente, minha irmã deixara sua coletânea dos Smashing Pumpkins no carro, e ela duraria o tempo da viagem, mesmo pulando "Disarm". quando cheguei à rodovia Presidente Dutra, vi que o carro dela, que tem o mesmo motor do meu mas uns 250 quilos a menos, era perfeito para testar uns limites. e, na reta entre Roseira e Pindamonhangaba, bati meu antigo recorde de velocidade (163 km/h, a bordo do Polo Classic em que aprendi a dirigir), cravando 168 km/h.

 

ao sair da Dutra e entrar na Carvalho Pinto, já era hora das músicas do "Mellon Collie and the Infinite Sadness", aquele disco que todo mundo tem – e quem não tem deveria comprar um ainda hoje; aumentei a velocidade de cruzeiro dos 120 km/h permitidos para algo entre 130 e 140, e a cada descida ou reta sem outros carros ia esticando a 150, 160. quando "Bullet with butterfly wings" começou, lembrei de quão boa é essa música, e de quão importante ela foi (e é) na minha vida. a cada vez que o Billy Corgan gritava a última palavra do refrão, eu ia junto: "despite all my rage, I'm still just a rat in a CAAAAAAAAAAGE".

 

eu precisava desabafar já há coisa de vários meses, e berrar junto com os Smashing Pumpkins a 150 km/h era a melhor forma de fazer isso. em "1979", fui acompanhando a letra, cantando alto, and we don't even care, just restless as we are. comecei a chorar, e a lembrar como essa música me faz sonhar e me avisa que não há limites para onde posso chegar. veio "Zero" e seu pessimismo metaleiro, e eu não me abati, apenas para voltar a chorar em "Tonight, tonight" e seu aviso: believe, believe that life will change, that you're not stuck in vain. e que termina com uma das "coisas que eu nunca te disse": acredite em mim como eu acredito em você.

 

quando "Tonight, tonight" acabava, apareceu, bem atrás de mim, um dos carros com que ando sonhando, um Volvo C30. faróis de xenônio acesos (era meio-dia), ele vinha em disparada. como eu estava num estado de daydreaming, achei que era o caso de perseguir o meu sonho, literalmente, e acelerei o 206 da minha irmã para acompanhá-lo. 130, 140, 150... e ele ia se distanciando. 160, 170, um novo recorde pessoal de velocidade... e ele ainda abrindo espaço.

 

foi só a 180 km/h que ele parou de ficar mais longe de mim. mas fiquei apenas dez segundos nessa velocidade, para ver se o C30 não fugiria mais: ele ficou à mesma distância. estava ouvindo "Tonight, tonight" mais uma vez, e meu sonho estava ali, sem fugir de mim. e quando chegaram as duas do "Adore", o melhor disco da história, eu já me aproximava da Tamoios, aquela estradinha horrorosa que leva ao litoral. mas eu não estava ali... estava nas nuvens. foi questão de descer cantando junto de novo, lovely girl you're the beauty in my world e todas aquelas coisas lindas, strangers down the street, lovers while we sleep.

 

eu havia ganho meu dia, e olha que nem havia chegado à parte que imaginava que seria a mais legal dele.

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