virose
(um post que vai e volta no tempo)
fazendo algumas contas básicas, descobri que é possível conseguir a casa dos meus sonhos e o carro dos meus sonhos. basta que eu tenha um salário mensal bruto da ordem de R$ 22000. é o que paga o melhor concurso com inscrições abertas atualmente, que é o de Procurador da República. faz parte das atribuições de um Procurador da República elaborar denúncias sobre envolvidos em crimes de competência privativa da Justiça Federal, de dar o impulso inicial em ações civis onde a União seja parte interessada etc.
eu não quero ser um Procurador da República.
*
isso dito e isso posto, é imperativo procurar uma alternativa. falo com meu tio no MSN. ele diz que eu não tenho perfil para a iniciativa privada "porque eu não ralei desde o começo", referindo-se ao fato de que eu não trabalhei na adolescência, por exemplo, ou durante a faculdade. corta para este lado da conversa: lendo aquilo, me sinto mal. a verdade dói, mas epa! - quem disse que aquilo ali era a verdade? ele. a mim, resta rebater com argumentos: três grandes amigos meus, que eu saiba, não ralaram tanto assim durante a adolescência e hoje estão se dando bem na XP. lamento dizer, Valmir, but... I proved you wrong.
*
quarenta e oito horas atrás, conversando com um amigo. ele me fala de uma amiga da namorada, "bem interessante", segundo o próprio: advogada, mais velha. e me manda uma foto da dona, para saber se me interesso. observo, fecho a foto em dez segundos, a vida segue. digo alguma coisa para amenizar, ele me pergunta o que achei. sem pensar, mando algum comentário espirituosamente babaca, e ele diz que falta romantismo na minha vida. OPA!
OPA! OPA! OPA!
e pensar que eu sempre me considerei um cara romântico, pelo menos até segundos antes disso. a verdade dói: o que ele me diz é que deixei de acreditar nessas coisas em algum lugar lá atrás, não me lembro bem onde. mas tá aí: eu não sou mais romântico e a ficha não havia caído até agora. ele me cola uma mensagem da namorada para ele. acho tudo tão água-com-açúcar que sinto vontade de comer uma picanha mal passada. ele diz que "é uma questão de eu achar alguém" e eu concordo, afinal de contas eu já me senti assim algumas vezes. o papo começa a me incomodar e eu mudo de assunto, mas essa verdade vai me piscar uma, duas, dez vezes antes que eu atravesse o túnel.
*
volta para hoje. ligo para a Ana Paula e pergunto a ela o que um Procurador da República faz. ela me esclarece, diz que é um promotor de justiça no âmbito federal, apesar de o nome do cargo, assaz garboso, sugerir algo diferente, quiçá supremo. não escondo minha decepção e explico a ela que até então pensava em estudar para o próximo concurso com vagas para o cargo. ela diz, com acertada razão, que eu tenho de ficar longe desse concurso, por ter passado toda minha "vida jurídica" com ojeriza do parquet.
pouco depois ela me pergunta como vai a vida e se eu estou apaixonado por alguém. dou a resposta de sempre, e ela diz para que eu não me preocupe, e que "tudo tem a sua hora" - frase que minha mãe dir-me-ia uma hora e tanto depois, em outro contexto. sem me lembrar da conversa de sábado com o Guilherme, narrada pouco acima, concordo com a Paula, mas apenas para encerrar o assunto. para citar uma frase da primeira música do disco que mais tenho ouvido por esses dias, no, don't mention love...
*
uma hora antes disso, lá estou eu no terceiro andar do prédio. encontro meu contato. falo para ele de como estou feliz. de como certas coisas que estou desenvolvendo, a despeito do retorno financeiro que me oferecem, fazem de mim um cara satisfeito. ele se surpreende. e então digo que estou ali porque quero mais. ele me põe a par das dificuldades e eu apenas digo que quero, posso e vou ajudar.
porque daqui a uma hora vai ter a Ana Paula pra me dizer que "tudo tem a sua hora", o que minha mãe vai reiterar sessenta minutos depois.
*
back to the ground zero: aqui costumavam estar duas torres gêmeas - eu e você, meu amor? - não. a lembrança de um passado que não fui eu quem construiu, tampouco você, se é que você... bem, deixa pra lá. então um dia virou o dia em que tudo acabou, e é aí que as coisas começam: cabe a mim erguer essa torre, mas do zero. sem lembrar que um dia ali houve uma torre, houve outra torre, houve uma trama de vidas envoltas naquele concreto hoje tornado pó.
traduzindo para o português: é a minha vida, preciso construi-la. com ou sem ajuda, um andar de cada vez, mas com a obrigação moral de ficar melhor do que algo que só conheço de relatos dos outros, sem uma única foto em preto-e-branco para me dar uma idéia. apenas a obrigação moral de ser melhor, ou o sentimento de ter falhado. daqui do décimo quarto andar a vista é muito bonita, mas lá em cima é ainda mais. mas como eu posso saber disso, se nunca estive lá? é que de vez em quando eu sonho.
o que é um comportamento de gente romântica.
fazendo algumas contas básicas, descobri que é possível conseguir a casa dos meus sonhos e o carro dos meus sonhos. basta que eu tenha um salário mensal bruto da ordem de R$ 22000. é o que paga o melhor concurso com inscrições abertas atualmente, que é o de Procurador da República. faz parte das atribuições de um Procurador da República elaborar denúncias sobre envolvidos em crimes de competência privativa da Justiça Federal, de dar o impulso inicial em ações civis onde a União seja parte interessada etc.
eu não quero ser um Procurador da República.
*
isso dito e isso posto, é imperativo procurar uma alternativa. falo com meu tio no MSN. ele diz que eu não tenho perfil para a iniciativa privada "porque eu não ralei desde o começo", referindo-se ao fato de que eu não trabalhei na adolescência, por exemplo, ou durante a faculdade. corta para este lado da conversa: lendo aquilo, me sinto mal. a verdade dói, mas epa! - quem disse que aquilo ali era a verdade? ele. a mim, resta rebater com argumentos: três grandes amigos meus, que eu saiba, não ralaram tanto assim durante a adolescência e hoje estão se dando bem na XP. lamento dizer, Valmir, but... I proved you wrong.
*
quarenta e oito horas atrás, conversando com um amigo. ele me fala de uma amiga da namorada, "bem interessante", segundo o próprio: advogada, mais velha. e me manda uma foto da dona, para saber se me interesso. observo, fecho a foto em dez segundos, a vida segue. digo alguma coisa para amenizar, ele me pergunta o que achei. sem pensar, mando algum comentário espirituosamente babaca, e ele diz que falta romantismo na minha vida. OPA!
OPA! OPA! OPA!
e pensar que eu sempre me considerei um cara romântico, pelo menos até segundos antes disso. a verdade dói: o que ele me diz é que deixei de acreditar nessas coisas em algum lugar lá atrás, não me lembro bem onde. mas tá aí: eu não sou mais romântico e a ficha não havia caído até agora. ele me cola uma mensagem da namorada para ele. acho tudo tão água-com-açúcar que sinto vontade de comer uma picanha mal passada. ele diz que "é uma questão de eu achar alguém" e eu concordo, afinal de contas eu já me senti assim algumas vezes. o papo começa a me incomodar e eu mudo de assunto, mas essa verdade vai me piscar uma, duas, dez vezes antes que eu atravesse o túnel.
*
volta para hoje. ligo para a Ana Paula e pergunto a ela o que um Procurador da República faz. ela me esclarece, diz que é um promotor de justiça no âmbito federal, apesar de o nome do cargo, assaz garboso, sugerir algo diferente, quiçá supremo. não escondo minha decepção e explico a ela que até então pensava em estudar para o próximo concurso com vagas para o cargo. ela diz, com acertada razão, que eu tenho de ficar longe desse concurso, por ter passado toda minha "vida jurídica" com ojeriza do parquet.
pouco depois ela me pergunta como vai a vida e se eu estou apaixonado por alguém. dou a resposta de sempre, e ela diz para que eu não me preocupe, e que "tudo tem a sua hora" - frase que minha mãe dir-me-ia uma hora e tanto depois, em outro contexto. sem me lembrar da conversa de sábado com o Guilherme, narrada pouco acima, concordo com a Paula, mas apenas para encerrar o assunto. para citar uma frase da primeira música do disco que mais tenho ouvido por esses dias, no, don't mention love...
*
uma hora antes disso, lá estou eu no terceiro andar do prédio. encontro meu contato. falo para ele de como estou feliz. de como certas coisas que estou desenvolvendo, a despeito do retorno financeiro que me oferecem, fazem de mim um cara satisfeito. ele se surpreende. e então digo que estou ali porque quero mais. ele me põe a par das dificuldades e eu apenas digo que quero, posso e vou ajudar.
porque daqui a uma hora vai ter a Ana Paula pra me dizer que "tudo tem a sua hora", o que minha mãe vai reiterar sessenta minutos depois.
*
back to the ground zero: aqui costumavam estar duas torres gêmeas - eu e você, meu amor? - não. a lembrança de um passado que não fui eu quem construiu, tampouco você, se é que você... bem, deixa pra lá. então um dia virou o dia em que tudo acabou, e é aí que as coisas começam: cabe a mim erguer essa torre, mas do zero. sem lembrar que um dia ali houve uma torre, houve outra torre, houve uma trama de vidas envoltas naquele concreto hoje tornado pó.
traduzindo para o português: é a minha vida, preciso construi-la. com ou sem ajuda, um andar de cada vez, mas com a obrigação moral de ficar melhor do que algo que só conheço de relatos dos outros, sem uma única foto em preto-e-branco para me dar uma idéia. apenas a obrigação moral de ser melhor, ou o sentimento de ter falhado. daqui do décimo quarto andar a vista é muito bonita, mas lá em cima é ainda mais. mas como eu posso saber disso, se nunca estive lá? é que de vez em quando eu sonho.
o que é um comportamento de gente romântica.
Etiquetas: bronze
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home