terça-feira, janeiro 09, 2007

zerinho

nada pra dizer hoje, então vou republicar uma resenha assinada pelo meu querido João Paulo Gomes, referente à apresentação do Jamie Lidell no TIM Festival de 2005. uma aula de resenha, na verdade.

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Atenção, gente, gostaria de começar essa resenha SENTANDO O PAU no Autechre, que cancelou o show no Brasil POR MOTIVO DE VEADAGEM. Só não o faço em respeito a 1998 - ano salvo da desgraça completa apenas pelo lançamento do fantástico LP5. A verdade é que, desde então, a dupla nunca mais escreveu nada tão bom quanto Acroyear2 ou Second Bad Vibel. Nos dois últimos discos, eles soam, no mínimo, chatérrimos. Tudo o que não é Multiply, segundo disco do inglês Jamie Lidell, escolhido para substituir as mocinhas de Sheffield no Tim Festival. No álbum lançado no início do ano pela Warp, Lidell deixou de lado o laptop e reuniu meia dúzia de maconheiros para montar uma banda de verdade e gravar um álbum inspirado no soul dos anos 60. Nota-se logo que é de coisa de branquelo, já que um NÊGO GINGA nunca teria saudade de uma época onde os direitos civis dos irmãos se restringiam ao direito de tomar cacete. De qualquer maneira, quem diria que a Warp um dia lançaria um disco feito com baixo, guitarra e bateria?

O resultado ficou do caralho, tá de parabéns, etc. Agora, ao vivo, a história é completamente diferente. Tanto que, nos planos originais de Lidell, o disco deveria vir acompanhado de um DVD com algumas de suas apresentações flagradas pela Handycam do videomaker Pablo Fiasco, que o acompanha nas turnês. Tudo em nightshot, super artê. É a Paris Hilton fazendo escola. Se no estúdio ele chega a ser comportado, no palco ele vira uma bicha louca – ele se apresenta trajando um roupão. De frente para o público, Jamie Lidell é Autechre para quem gosta de Marvin Gaye ou Prince para quem vive engatado num pó. Ah, se o Beck tivesse o segundo grau completo....

O músico dispensa a banda e confia principalmente no próprio gogó para recriar ao vivo as músicas registradas em estúdio. Funciona assim: Lidell começa com um simples beatbox, cuspido ali mesmo no microfone, para em seguida transformá-lo em um loop. Pouco a pouco, a música vai sendo construída em camadas de batidas quebradas e gritos imersos em delay. Lidell dá essa volta toda para poder deitar, rolar e até cantar em cima dessas bases. Quando você percebe, já dançou, nêgo. Literalmente. Foi assim com "The city", música que abriu o show. "The city it don't like you, no it never did", Lidell cantava. É verdade que o Rio de Janeiro preferiu os Strokes: o palco Lab estava praticamente vazio, em contraste com o main stage, onde os
nova-iorquinos haviam acabado de tocar "Last Nite". Mas não era nada pessoal. Os gritinhos e batidões do cantor começaram a empolgar a meia dúzia de gatos pingados que - vamos falar a verdade - estava ali para ver o galã Vincent Gallo.

Lidell não quis saber e tocou em frente, desfigurando as canções do último disco. O que elas perderam de pop, ganharam em experimentação: sai Motown e entra Warp. Músicas originalmente açucaradas como "You got me up" e "When I come back around" ganharam versões agréde, só para calar a boca de quem achou que fosse ver o show do Jamiroquai. Em meio à quebradeira, do soul restou apenas a voz de Lidell, que segura
bem ao vivo – mas não é nenhuma Aretha. Quase enxotado do palco pela produção do festival, o cantor pediu "Só mais quatro minutos e vinte segundos, ok ?" e soltou um PLAYBACK de Multiply, encerrando o show na base da picaretagem. A SESSÃO CONSTRANGIMENTO ficou por conta de uma das MESTIÇAS do Cansei de Ser Sexy, que ficou tentando tirar fotos com o CAÊ, num esquema Celebrities Uncensored. Calma, meninas. Esperem até o VMB do ano que vem.