sábado, novembro 11, 2006

humanidade

hoje foi um dos dias mais esquisitos da minha vida, em termos de humor, de sentimentos, de coisas abstratas em geral. parece que retiraram algo de mim por osmose ou fervura, e colocaram confusão no lugar. vai saber...

*

levo o patrão no aeroporto. seguem-se conversas regadas a macadâmias glaceadas e coisas que ninguém lê. eu faço uma série de perguntas sobre a vida dele e sobre o que vamos fazer, a gente fala de terceiros e eu percebo que meu chefe tem aquela vontade louca de agitar tudo a todo momento. vejo uma funcionária da Kopenhagen ser vítima do mau-humor mordaz dele e nem se tocar. fico surpreso: um lado dele que não conhecia.

ele me pergunta da minha vida pessoal. falo tudo, não dou detalhes sobre coisas que perdi - "o que acabou, acabou, não volta e eu não pude fazer nada melhor". ele me diz para continuar em frente e para "jogar pra ganhar".

eu sempre jogo para ganhar. mas nem sempre tenho uma estratégia boa o suficiente.

então ele se abre e me fala que quer ter um filho ano que vem, que vai trocar de carro, que tem uma série de projetos sendo encaminhados. gosto disso. na real, o cara tira leite de pedra, extrai grana de onde não há como se tirar dinheiro. tomamos um café, ele me explica coisas sobre adoçantes sintéticos e naturais, confessa que passa mal quando toma refrigerante junto com comida, me passa uma pilha de recomendações de leitura complementar. e se antecipa à chamada do embarque. na frente da entrada para a sala de espera, ele se despede de mim dizendo, como sempre, "juízo, viu?", e me dá uma pulseira de acesso VIP a uma casa noturna aqui de Brasília.

pode deixar, chefe. talvez eu tenha juízo até demais e isso esteja prejudicando a minha vida, na verdade. vai saber...

*

ela estava tão bonita hoje que, quando for amanhã, só não sentirei vontade de que fosse ontem porque provavelmente ela estará ainda mais bonita no novo hoje. é uma questão de tempo.