terça-feira, setembro 26, 2006

fora do mundo

então estava eu, na noite de domingo, a assistir em diferido ao Telejornal da Noite, da SIC Internacional. umas nove e pouco, e uma matéria curiosa apareceu na parte final do noticiário.

a reportagem era sobre João Paulo Diniz, um radialista português. dono de um vasto currículo nas maiores emissoras de rádio do país, e com um detalhe que eu gostaria que estivesse no meu currículo: ele era o locutor que estava no ar nos Emissores Associados de Lisboa quando anunciou a canção "E depois do adeus" - cuja execução era a senha para que a Revolução dos Cravos tomasse Portugal logo em seguida.

(parênteses rápido: a Revolução dos Cravos foi um levante militar que, a 25 de abril daquele ano, derrubou o regime político português, nas mãos de Marcello Caetano, depois de trinta e cinco anos de salazarismo. à época, Portugal era um país um tanto atrasado e predominantemente rural, apesar de bons indicadores sociais)

continuando: João Paulo, que atualmente deve estar na faixa dos sessenta anos, está desempregado. um problema que também assola Portugal, e que fica mais crônico quando se fala de gente sem experiência ou com bastante experiência, como é seu caso. e decidiu publicar um anúncio num jornal luso, oferecendo-se para trabalhar. lembro-me que o anúncio mencionava "alguns cabelos brancos de experiência", e dava o mail para contactá-lo.

na entrevista que se seguiu, João Paulo (que é homônimo do playboy brasileiro mas não tem nada a ver com ele) falou das dificuldades pelas quais se passa na busca de um emprego e que tem, a despeito de todas elas, muita esperança para o futuro. não se prendeu ao passado em nenhum momento, falou de como a vida da gente é cíclica, e que agora ele está por baixo mas logo logo estará por cima de novo. demonstrou, ali, uma vitalidade e uma juventude que eu, com vinte e cinco anos incompletos, nem sonho em ter.

se eu tivesse uma emissora de rádio aqui em Brasília, far-lhe-ia uma proposta na mesma hora. como (ainda) não tenho, decorei o mail e enviei-lhe ontem uma mensagem desejando-lhe boa sorte e dizendo o quanto aquilo tinha me sensibilizado.

recebi uma resposta dele algumas horas depois, um pouco surpreso por alguém no Brasil ter visto a reportagem e decidido escrever, agradecendo pelas palavras e me dizendo para "nunca desanimar, sempre ir em frente!". diante disso, o que é que me resta? desejar toda a sorte do mundo a ele, mais uma vez, e não desanimar, sempre ir em frente.