meia-vida
vou procurar uns livros do Alexandre O'Neill. conheço pouco da obra dele, mas gosto de tudo o que li. e, num poste que poderia muito bem ser da série "coisas que eu nunca te disse", vão aí dois fragmentos de seu poema "um adeus português", de 1949:
Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver
(...)
Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti
leio então que "um adeus português" foi escrito para a poetisa francesa Nora Mitrani, com quem o autor se envolveu em Lisboa naquele ano e por ela se apaixonou. ela convidou O'Neill a ir ter-se com ela em Paris, ele foi até a polícia salazariana pedir passaporte... mas aí alguém da família dele não quis que ele fosse atrás da francesa e fez a cabeça da direção da polícia, que não lhe concedeu o passaporte. ficou em Portugal e escreveu esse poema para ela, que acabaria se suicidando em 1961.
essa última estrofe me despedaça. para quem quiser ler o poema todo, tá bem aqui.
Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver
(...)
Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti
leio então que "um adeus português" foi escrito para a poetisa francesa Nora Mitrani, com quem o autor se envolveu em Lisboa naquele ano e por ela se apaixonou. ela convidou O'Neill a ir ter-se com ela em Paris, ele foi até a polícia salazariana pedir passaporte... mas aí alguém da família dele não quis que ele fosse atrás da francesa e fez a cabeça da direção da polícia, que não lhe concedeu o passaporte. ficou em Portugal e escreveu esse poema para ela, que acabaria se suicidando em 1961.
essa última estrofe me despedaça. para quem quiser ler o poema todo, tá bem aqui.
Etiquetas: bronze
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