segunda-feira, outubro 15, 2007

Apejota

novamente numa fase "mandando bem", a despeito de chamar o Bush de "vil":

Huck, Ferréz, Moore, Fromer

Gastei um bom tempo tentando imaginar algo mais desprezível do que o artigo que o "escritor" Ferréz publicou na Folha de 8/10. Algo que combinasse tamanha pieguice, manipulação, moralismo pseudo-esquerdista e mistificação da figura dos "despossuídos".

Lembrei do "documentarista" americano Michael Moore. Como Ferréz, Moore se fantasia de defensor das oprimidas vítimas do sistema. E, uma vez definida essa causa do bem, perde todo escrúpulo: falsifica, apela, manipula. Como os alvos de Moore são figuras e instituições realmente vis (o presidente Bush, o sistema de saúde americano etc.), ele pode ser visto -não por mim- como alguém que, pelo menos, luta uma luta justa.

Mas esse olhar indulgente não pode recair sobre o "texto" de Ferréz. Para quem teve a sorte de não ler o tal "artigo", resumo. Ferréz respondia a Luciano Huck que, no mesmo espaço, dias antes, escreveu sobre o fato de que poderia ter morrido quando teve seu Rolex roubado em São Paulo. Para Ferréz, Huck não tem do que reclamar, já que escapou com vida e deu mole por andar com um relógio que vale o preço de várias casas lá na "quebrada" de onde veio o heróico ladrão.

Em 2001, quando Marcelo Fromer, dos Titãs, morreu atropelado por um motoqueiro na contramão, lamentei aqui a degradação urbana brasileira. Recebi dezenas de mensagens no mesmo estilo (chamemos assim) de Ferréz. Jogavam a culpa em Fromer: quem mandou atravessar fora da faixa, quem mandou vacilar.

Na época, eu morava na Califórnia e fiquei imaginando que, se eu vacilasse para atravessar a rua mais movimentada perto de casa, não ia me acontecer nada, porque não viria moto na contramão e os carros param quando um pedestre passa, na faixa ou não.

O "texto" de Ferréz une o pior desses dois mundos: a mistificação de Michael Moore e a "esperteza" de quem acha que a culpa é sempre das vítimas.

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