domingo, setembro 23, 2007

relaxamento

então essa noite rolou a apresentação da Madeleine Peyroux aqui em Brasília; devidamente descrita como "fenômeno do jazz internacional" e escaldada por músicas em novelas e bombando na Antena 1, a senhorita Peyroux faz atualmente uma digressão brasileira, coisa rara para quem está no auge, como é o caso. de Ouro Preto ao Rio de Janeiro, das capitais do nordeste à capital federal, ninguém vai ficar sem.

não tinha muitas expectativas para o concerto, já que não sou fã extremista. ouvi um monte essa semana dizendo que ela não é cantora de jazz, não é diva, não é isso, não é aquilo. ótimo. vamos nos concentrar no que ela pode nos dar: arranjos bem-feitos, repertório deliciosamente escolhido e uma voz que faz o feijão com arroz em 80% dos casos e brilha em outros 15% (há alguns momentos constrangedores, que preenchem o resto do tempo). achei fácil uma vaga no estacionamento do estádio Mané Garrincha, vizinho ao centro de convenções Ulysses Guimarães, local da apresentação, e logo entrei e deitei fora meu ingresso, cem reais a meia-entrada (com dois quilos de arroz, eu ganhava o direito à meia).

cabe aqui uma crítica à organização: os ingressos eram divididos em VIP Gold (150 reais), VIP A (100 reais) e VIP B (60 reais). e não há tantos VIPs assim no mundo, quanto menos em Brasília. preferia que fosse dividido em inferior frontal, inferior traseiro e superior, ou algo do tipo. e, já que comecei a criticar, vai uma outra crítica, desta vez à platéia: todo mundo sabe que show de jazz é coisa de casalzinho, e mesmo quem vai em um sozinho, como eu, respeita isso. o que não dá é pra ir com mulher feia em show de jazz, e isso tinha de monte. pagar 100 reais pra ser acompanhado por uma feia é deprimente, e se for pra isso é melhor pegar a rota do Pamonhas & Batatas, em Taguatinga Sobradinho. fora isso, o lugar à minha direita estava livre. era pra você, meu amor, mas ainda não nos acertamos.

Madeleine Peyroux adentrou o palco meia hora depois do mencionado no ingresso, violão em punho e acompanhada com uma banda de quatro músicos. começou com a primeira música do disco "Half the perfect world", cujo nome não me lembro agora e sinto preguiça de recorrer ao Google. o repertório concentrou-se nesse disco e no "Careless love", mas indo e voltando do primeiro, "Dreamland".

no começo, a postura dela no palco era irritante: a srta. Peyroux tem cara de funcionária pública, veste-se como uma funcionária pública e adotava a postura de uma funcionária pública recém-transferida de um departamento para outro. só que música pop não é repartição, violão não é carimbo e sábado não é dia pra trabalhar pro governo, meu bem, então muda logo isso. lá pela terceira música um velho babaca, sentado pouco atrás de mim, gritou "apaga essa luz". Maddie, com um inglês de dicção perfeita, disse "desculpe, não entendo português, não sei o que estão dizendo. mas se você tentar em inglês, quem sabe eu entenda", no que eu disse baixinho "que bom que você não entende, nessas horas é ótimo", provocando risos dos meus vizinhos. logo depois, um cara das cadeiras superiores mandou ligarem "essa porra de som aqui pra cima", no que mandei um "pobre é uma merda" que fez ecoarem risos meigos ao meu redor, aumentados quando disse "putz, odeio pobre".

lá pela quinta música a senhorita Peyroux já estava mais "soltinha", embora a timidez ainda lhe coubesse. arriscava uns passos tímidos, mostrou sua interpretação heterodoxa de "La javanaise", do mestre Gainsbourg, fez um comentário sobre "Everybody's talking", eternizada pelo Harry Nilsson na trilha do "Midnight cowboy" e mandou uma bela versão de "Summer wind", que descreveu como sendo "uma música bem antiga. mas algumas músicas antigas são boas", como se estivesse envergonhada por gostar de algo assim.

curioso é que a introdução de "Summer wind" me lembra muito a de "Querida", do Tom Jobim - queria que Madeleine soubesse disso, mas não me manifestei ali, claro. e assim ela foi se desinibindo aos poucos, embora, fique bem claro, não tenha gritado, interagido com a platéia além da conta ou coisa assim. e a coisa foi indo até o final, merecendo lembrar das outras duas músicas que queria ouvir: "Smile" (a do Charlie Chaplin, cuja versão com o Elvis Costello continua sendo a melhor) e "Dance me to the end of love" (que arrancou gritos, suspiros e aplausos de todos; da maioria, porque é o hit; de mim, porque uma pessoa que coloca Leonard Cohen numa FM comercial brasileira merece aplausos de pé). não senti falta de "Between the bars", uma vez que não sou indie.

ah, uma outra reclamação: brasileiro não sabe aplaudir. aplaudiam duas, três vezes no meio da música, fora o final. toda hora era aplauso. não é assim, meu deus.

se eu tiver de resumir o que aconteceu nesse show, o mais sensato é dizer: moça com cara de funcionária pública, vestida como funcionária pública, se apresenta na cidade do funcionalismo público. começa burocrático e depois vai ganhando em peso e coração, embora a falta de ousadia musical da moça informe, a quem já ouviu um disco dela, que não há grandes ousadias durante toda a noite. se ela não será promovida à gerência do departamento, pelo menos será conhecida como sendo uma boa profissional, talvez com um bom papo ou capaz de fazer uns brigadeiros deliciosos. e quem chamá-la para conversar ou para sair pode ter boas surpresas.

*

nota importante: este blógue estava ininteligível e agora espero colocar ordem na casa, com menos posts, mas maiores. e possíveis de serem entendidos por pessoas normais (apenas, claro, os com as etiquetas "bronze" e "prata"). caso fique muito abstrato, conto com a ajuda dos leitores para combater essa moléstia.

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2 Comments:

Blogger Claudio Chad declarou...

Só lembrando que o Pamonhas & Batatas fica em Sobradisney.

domingo, 23 setembro, 2007  
Anonymous Anónimo declarou...

We want fast food.

segunda-feira, 24 setembro, 2007  

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