quinta-feira, março 23, 2006

vergonha
Machismo marca sabatina de Ellen Gracie
da sucursal de Brasília

O plenário do Senado aprovou ontem a indicação da futura presidente do STF Ellen Gracie Northfleet para a presidência do CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Antes, a ministra teve seu nome aprovado numa sessão da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) recheada de cenas constrangedoras por conta de comentários de teor machista por parte dos senadores.

A partir do próximo dia 30, ela vai presidir o STF, em substituição a Nelson Jobim, que irá se aposentar. A nova função a levará também ao comando do CNJ, o órgão de controle externo que proibiu o nepotismo e mandou limitar o salário dos desembargadores a R$ 22.111. O plenário aprovou seu nome por 61 votos a favor, 1 contra e 1 abstenção.

Depois de afirmar que conhecia as qualificações profissionais de Ellen Gracie, o senador Wellington Salgado (PMDB-MG) anunciou: "O meu voto ainda leva em conta a beleza e o charme. Assim voto com muito prazer."

Já Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) disse que falaria não como senador, mas como "médico ginecologista". Fez elogios às mulheres em geral e afirmou entendê-las em razão da atividade profissional. "Como ginecologista, aprendi a lidar de perto com as mulheres, a entender muito profundamente a sensibilidade feminina", disse. O clima foi de constrangimento.

Ao final da sessão, após a aprovação unânime da indicação de Ellen Gracie, o presidente da CCJ, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), tentou reparar declarações como a de Salgado. Disse que a ampla aceitação do nome dela se devia "à elegância física e moral, à dignidade e sobretudo à competência" da ministra.
A sabatina é um requisito para a nomeação do presidente do CNJ. Ela também é exigida na escolha de ministros do STF.

"A senhora não veio ser sabatinada, veio ser homenageada", afirmou José Agripino (PFL-RN). O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), seguiu a mesma linha: "Eu não poderia deixar de participar dessa homenagem."

Ellen Gracie revelou a expectativa de que o presidente Lula nomeie mais uma mulher para o STF. "Não será por falta de escolha que não teremos em breve, se tudo correr bem, uma colega no tribunal."