segunda-feira, novembro 09, 2009

caiu

Era agora 6:58 da tarde. Um jovem ansioso e magro de doer, vestido com um antigo terno de tweed levantou-se, com o microfone na mão. Fiz a pergunta mais óbvia que veio à minha mente: “Herr Schabowski, was wird mit der Berliner Mauer jetzt geschehen?” (”Senhor Schabowski, o que acontecerá ao muro de Berlim agora?) Centenas de milhares de alemães de ambos os lados do muro estavam assistindo: eles também queriam a resposta. Schabowski parecia desconcertado. Ele anunciou que essa seria a última pergunta. Repetiu-me a pergunta para si mesmo e acrescentou que “A permeabilidade do muro pelo nosso lado ainda não resolve exclusivamente a questão acerca do significado dessa fronteira fortificada da RDA”. Era algo muito alemão refletir sobre o significado do muro de Berlim naquele momento. Mas aí é que estava a dificuldade. Agora que tinha usado as palavras fatais “muro de Berlim”, Schabowski poderia ter aproveitado a oportunidade para dizer que a abertura do muro naquela noite não estava em questão. Poderia ter explicado qual seria a razão da existência do muro agora que as pessoas não seriam mais alvejadas ao tentarem passá-lo. Em vez disso, hesitou. Tropeçava nas próprias palavras. Divagava sobre paz e desarmamento por dois dos minutos mais longos de sua vida. Mas não respondeu a pergunta porque não tinha resposta. Um muro entre as duas metades de um país poderia não ter “sentido” se as pessoas pudessem transitar livremente. Era o fim. E quando Schabowski terminou um pouco depois das 7 da noite, todos sabiam. O Pfennig caiu.

Daniel Johnson, na Dicta & Contradicta, sobre o assunto do dia (via Reinaldo Azevedo).

Etiquetas: