domingo, outubro 01, 2006

I love the sound of the breaking glass

uma noite complicada para todos nós. gritos, sussurros, "por quê você fez isso?" de um lado. do outro, saltos 10, ausência de pudores, a orla do lago Paranoá e uns cigarros imaginários. e até uns de verdade também. bebe-se um pouco para poder agüentar um muito: é o tédio chegando às camadas superiores dos estratos sociais.

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"nunca vi uma turma tão pouco qualificada", alguém me diz. não sei se é verdade - deve ser - mas esta já ganhou um outro troféu: a de "menos interessante". não dá vontade de puxar papo com ninguém, de convidar uma moça pra dançar, de elogiar o barman; este, aliás, faz coquetéis sem gelo e substitui o Sprite por guaraná no meu. não há taças em riste para o brinde: o cheers fica para uma próxima turma. ou uma próxima encarnação...

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olho para a menina no vestido verde: ela quer se engatar com alguém. comigo? duvido muito. desconfio vinte vezes, só entro em coisas que já ganhei por antecedência. cruzo olhares rapidamente, para que ela não perceba que estou fazendo um mero teste sociológico - não estou a fim dela. incidentalmente, é uma forma velada de dizer a mim mesmo que não confio no meu taco "nem para pegar essa baranga". cruzo de novo, ela continua dançando, provavelmente dará atenção ao primeiro que chegar. eu não fico com mulher feia, e a história de "arrumadinha" não cola comigo. vamos embora, o Paranoá está incrivelmente enfadonho. don't save the last dance. antes de entrar no carro, fumo meu último cigarro imaginário e lá dentro, com o climatizador ligado, troco o Gainsbourg classudo com o qual comecei a noite, com alguma esperança, pelo Chet Baker corno que define bem como tudo acabou. a lamentar, apenas o fato de eu estar em regime e não acompanhar o amigo no McDonald's.

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e no outro dia, a sensação de derrota se dilui em meio à expectativa de vitória nas eleições. é pouco, eu sei. mas dez por cento, para quem não tem nada, às vezes corresponde ao mundo todo. viva o amor, ainda que ele não exista.