terça-feira, setembro 19, 2006

twinings

então a tarde foi péssima e eu peguei meu carro, abasteci o tanque e fui queimar gasolina. dirigir, going nowhere and fast, era um dos meus exercícios de relaxamento preferidos quando morava em deprelândia; não o faço muito por aqui graças a duas coisas: primeira, a vigilância eletrônica que me impede de andar a mais de 60 km/h no Lago Norte, por exemplo; segunda, não tenho subsídio para a gasolina - se quero andar mais de carro, preciso comer menos.

mas ontem, pela primeira vez em um ano e meio de Brasília, vi-me compelido a fazer aquilo. sentindo-me corno, botei um Whiskeytown e fui pro final do Lago Norte, até o Clube do Congresso - o lugar mais isolado em que penso ir, por enquanto. e não era o bastante, então depois de ir até o fim do bairro, voltei e cortei a cidade novamente, indo parar no Casa Park. minha intenção lá era de abstrair, ver alguns móveis, algumas coisas bonitas. quando me sinto mal, tenho de ver coisas bonitas. mas, mal entrei lá, subi à Livraria Cultura e me senti num bunker, protegido contra tudo de ruim que pudesse me acontecer, no meio daquele ar-condicionado fortíssimo, das mulheres com roupas cor de pêssego, de cadeias montanhosas de livros.

parei na seção de música clássica e jazz. ela fica no primeiro andar, enquanto todas as outras seções de música ficam no térreo. para mim, isso é uma forma velada de dizer que são formas superiores de arte - e são mesmo, por menos que concordasse com isso cinco anos atrás e por mais que inclua o Suede no grupo superior. procurei uma dica do JP: a nona do Mahler, regida pelo Leonard Bernstein. com o preço pouco convidativo, o cara da seção me recomendou uma outra versão, com sir John Barbirolli na batuta. perguntei ao vendedor:

"- o que você tem de corno aqui?"
"- o Chet Baker fica na segunda fila, ao meio."

não, ele não disse exatamente isso. apenas coçou a cabeça antes de responder, hesitante: "de corno... de corno... acho que o Chet Baker, né?". ótimo. levei uma coletâneazinha dele, "My funny valentine", de umas gravações na Pacific Jazz, entre 1952 e 1955 - quando ele ainda tinha alguma voz. e peguei uma Elle portuguesa, pra ficar vendo coisas bonitas enquanto tomava um chá Twinings.

dentre as várias opções de chá disponíveis, havia um chamado passion tea: manga com laranja. na hora, veio-me à cabeça que estou com algum problema com a paixão. não sei bem ao certo, mas ou ela está me faltando ou ela está me sobrando. e decidi tomar esse chá - sem sequer me lembrar que tinha dito que manga era tendência. sensacional. e assim, aos poucos, vou me recuperando...