domingo, fevereiro 26, 2006

damas
uma barra de chocolate não vai te trazer de volta. nem ao pensamento, porque desse você nunca chegou a ir embora. metade dos meus discos me faz lembrar de quanto estávamos juntos, metade me faz lembrar dos desencontros: queria que existisse uma outra metade sem ligações com você. sem ligações. prometi não tocar no telefone para discar o seu número e estou cumprindo a promessa, embora não me falte vontade para ligar e te mandar para o céu - para o inferno não, porque não estou a fim de te encontrar (até estou, mas não vou confessar isso). do outro lado, você se perguntaria o porquê de eu estar te xingando e me diria que não fez nada. por um momento eu quase acreditaria, no outro eu começaria a chorar. não, não há o que fazer, de verdade. também não há porquê fazer ou como fazer.

as suas palavras retumbam na minha cabeça a cada cinco segundos, como se viver fugindo por outros campos do tabuleiro não fosse o suficiente. se relacionamentos fossem uma cidade, o nosso amor seria um beco sem saída. ou nem isso: talvez fosse um loteamento clandestino, algo que nunca existiu na prática, sei lá. e se urbanismo parece complicado, existem coisas piores no mundo, como tentar entender o que se passa na sua cabeça. ou o que não se passa, dependendo do caso.

você não está lendo isso. provavelmente está por aí aproveitando o carnaval com seu novo namorado, aquele cara que você mentiria pra mim, dizendo "podia ser você", enquanto se esfrega com ele. não, não podia. não podia e eu estou cansado de ficar com um sentimento de culpa, como se o meu comportamento fosse responsável por tudo. acredite, eu não engoli até hoje você me dizendo "eu fiz de tudo pra gente ficar junto", ou a sua última frase, "você demorou e enquanto isso a vida acontece". pode me chamar de mau perdedor, de criança, do que quiser. mas não tente atribuir a culpa de tudo pra mim - aceito a metade, sem problemas, e nada além. pobre do seu ego, pobre da porra do teu egoísmo, que terão que engolir que você me magoou e não foi pouco. lembro de quando você me disse "eu não consigo me magoar com essas coisas", querendo demonstrar superioridade. tudo bem, você não se magoa. então não deve sentir nada por ninguém - então você mentiu pra mim quando disse que gostava de mim. ótimo. mentiu quando disse que me amava (sim, você disse isso), mentiu quando falou que tinha dúvidas.

poderia aceitar a sugestão que me fizeram e criar uma história pra matar você, pra que você não me fizesse mais mal nenhum em vida. mas eu nunca mais conseguiria dormir, nunca mais teria condição de encarar a vida como um homem, nunca mais. como você não está aqui, posso dizer "nunca mais" até nunca mais precisar, sem me incomodar com o fato de você achar que eu "tiro as conclusões que quero". não, chega. chega de entregar o controle a você, chega de achar que um dia a gente vai se entender, chega de perder tempo. eu passo o tempo todo afundado em trabalho pra ganhar dinheiro e te esquecer, eu ouço meu irmão mais velho dizendo que chegou a passar a madrugada no trabalho pra tentar esquecer de uma garota que fez isso com ele. chega de pensar que com grana, guitarra e um corte de cabelo novo eu te conquisto - não vou nem dizer uma segunda vez porque não houve primeira - para sempre. ou de imaginar que basta eu estar de terno, tocando teclados numa banda, você vai me esperar sair do palco e dizer (outra vez, dessa vez não da boca pra fora) que me ama. chega. nunca mais.

como você não está aqui, não vai saber que eu estou dizendo esse monte de coisas sem ao menos saber se vou conseguir, provavelmente não. tenho um emprego legal, um monte de projetos em andamento, meu primeiro livro sai daqui a duas semanas, não tenho pressão nenhuma sobre a minha cabeça, a não ser o fantasma que atende pelo seu nome e que, mesmo sem se manifestar há tanto tempo, ainda me circunda como uma gangue de cães famintos. já ouvi alguém dizendo que você destrói tudo o que toca, especialmente as línguas que tocam a sua - tal qual uma víbora. e a vida na selva é uma merda.