l'inspecteur
cheguei há pouco do laboratório, onde fiz um exame que já deveria ter feito. não queria furar o braço mais uma vez, mas a exigência foi imperativa e eu tive que dar o braço a torcer, ou melhor, a picar. o resultado sai na hora do almoço, trinta horas antes do prazo inicialmente estipulado. e, para adiantá-lo, bastou dizer "amanhã à noite é muito tarde, não tem condições" enquanto fazia um olhar do tipo "ou você muda isso pra daqui a cinco horas ou você sai daqui direto pr'uma gaveta do IML".
*
senha número doze, é minha vez.
"- Luís Eduardo?"
"- bom dia, sou eu."
"- por aqui, por favor."
"- ah, ok."
"- você não chora não, né?"
como assim? eu não sou emo, oras.
"- não, não choro. mas não posso ver sangue, tenho que olhar pro outro lado."
"- não se sente bem?"
"- das duas últimas vezes que fiz isso eu desmaiei."
"- e seringa e agulha, pode ver?"
"- não."
"- nem pra ver se é descartável?"
"- eu sei que é."
"- não pode confiar assim nos outros."
"- tem razão, perdi minha confiança em você."
*
na saída, surpresa: três fornos elétricos e duas máquinas de café da Nestlé, esperando para fornecer pão de queijo e capuccino de graça para quem fizesse exame. comi cinco mini-pãezinhos e tomei dois capuccinos carregados de adoçante e canela, doces a ponto de transformar a glicose de uma pessoa média em... sei lá, um merengue humano. só não tomei de baunilha porque não tinha, do contrário eu tomaria cinco e mudaria meu nome para Henrique Coelho. e voltei pra casa ao som de "Still life", do Suede, aquela música que adoro ouvir pela manhã, logo depois que acordo e me certifico de que estou vivo.
tudo bem, "Still life" tem o sentido original de "natureza morta" e fala sobre uma dona de casa que fica numas de "isso não é vida". talvez a minha também não seja, afinal.
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senha número doze, é minha vez.
"- Luís Eduardo?"
"- bom dia, sou eu."
"- por aqui, por favor."
"- ah, ok."
"- você não chora não, né?"
como assim? eu não sou emo, oras.
"- não, não choro. mas não posso ver sangue, tenho que olhar pro outro lado."
"- não se sente bem?"
"- das duas últimas vezes que fiz isso eu desmaiei."
"- e seringa e agulha, pode ver?"
"- não."
"- nem pra ver se é descartável?"
"- eu sei que é."
"- não pode confiar assim nos outros."
"- tem razão, perdi minha confiança em você."
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na saída, surpresa: três fornos elétricos e duas máquinas de café da Nestlé, esperando para fornecer pão de queijo e capuccino de graça para quem fizesse exame. comi cinco mini-pãezinhos e tomei dois capuccinos carregados de adoçante e canela, doces a ponto de transformar a glicose de uma pessoa média em... sei lá, um merengue humano. só não tomei de baunilha porque não tinha, do contrário eu tomaria cinco e mudaria meu nome para Henrique Coelho. e voltei pra casa ao som de "Still life", do Suede, aquela música que adoro ouvir pela manhã, logo depois que acordo e me certifico de que estou vivo.
tudo bem, "Still life" tem o sentido original de "natureza morta" e fala sobre uma dona de casa que fica numas de "isso não é vida". talvez a minha também não seja, afinal.
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