quarta-feira, maio 03, 2006

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do Ricardo A. Setti, ontem, no noblog:

Um espanto: a "surpresa" do governo ante o gesto de Evo

Alguma coisa saiu errada, muito errada, nos esquemas de informação do governo brasileiro, começando, é claro, pela Agência Brasileira de Informações (Abin), diante do decreto do presidente Evo Morales que estatizou as jazidas de petróleo e gás e as empresas da área que atuam na Bolívia, a começar pela Petrobras, a maior companhia do país.

"O governo foi pego de surpresa", disse o assessor internacional do presidente Lula, Marco Aurélio Garcia. A mesma palavra, "surpresa", foi utilizada por outros ministros e dirigentes.

Como, porém, falar em surpresa nesse caso? É um espanto. Bastava ler jornais com atenção para perceber o crescente clima de radicalização nacionalista em curso na Bolívia — nas falas de Morales, em discursos de deputados, em manifestações de sindicatos, em editoriais da imprensa boliviana — em relação à questão do petróleo e gás. Será que os agentes da Abin não lêem nem jornais, não assistem aos canais de notícias na TV, não checam sites noticiosos na internet?

Sem mencionar que o governo parece não ter entendido os sinais representados pelo impasse que vinha se verificando nas conversações entre os dois lados, ocorridas tanto no Brasil como na Bolívia.

O próprio secretário-geral do Itamaraty, embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, esteve por vários dias na semana passada na Bolívia, em contato com integrantes do governo Morales, e não percebeu o que estava em curso.

O governo parecia tão distraído diante do caldeirão em ebulição no país vizinho que ontem, dia da estatização definida por "decreto supremo" de Evo Morales, figuras-chave para a ação brasileira no caso estavam em viagem ao exterior: o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, e a ministra chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, nos Estados Unidos, e o chanceler Celso Amorim em Genebra.

O presidente Lula, (ex-)amigão do peito do presidente Evo Morales, naturalmente não sabia de nada.